A Academia Catarinense de Letras encerrou as atividades do ano conferindo o Prêmio Othon Gama d’Eça “in memorian” ao escritor Manoel Carlos Karan, catarinense de Rio do Sul, que fez sucesso no Paraná. Autor da iniciativa, o premiado escritor e acadêmico Dionísio da Silva falou sobre o homenageado no dia dos 50 anos do AI-5.  

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Quem foi o catarinense Manoel Carlos Karan?

Dionísio da Silva – Foi um querido amigo e um grande escritor. Ele é o nosso Ibsen e o nosso Corpo Santo. Os dois autores mostram o absurdo do cotidiano, com narrativas muito sagazes.

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O senhor homenageou Karan falando dos 50 anos do AI-5…

Dionísio – A geração dos anos 70, na qual me incluo com Karan, foi uma geração de enganados, uma geração de várias bandeiras. Nós lutamos pela democracia, escrevendo e usando armas legítimas. Mas tínhamos como ídolos pessoas que queriam substituir uma ditadura por outra. Então, no cinquentenário do AI-5, que felizmente derrubamos, é preciso corrigir estas perspectivas e restabelecer a realidade histórica. Aquelas pessoas não nos enganam mais. Temos uma confluência de novas interpretações, mostrando que havia muitos dissimulados naquelas contestações. Havia gente que não queria a democracia não. Queria era outro veneno, outra ditadura. Vivemos no AI-5 a geração dos enganados.

 

Como explicar que os maiores compositores e escritores surgiram nas décadas de 60 e 70 e hoje há uma grande pobreza musical e literária?

Dionísio – Eu atribuo parte desta crise, desta carência criativa à decadência de nossa escola, do sistema de ensino. O Brasil desaba nas classificações internacionais porque tem alunos que terminam o ensino médio, depois de 11 anos de estudos, não sabem ler e escrever. Acho que o remédio está vindo da porção do veneno. As novas tecnologias criaram gerações de alienados, mas eles estão lendo mais. Apesar do confinamento a que foram submetidos nas redes sociais, eles estão lendo. Lendo em janelas, de forma fragmentada, mas estão lendo. Em algum momento vão fazer uma unidade de tudo isso.

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E o futuro do jornalismo e da literatura?

Dionísio – Infelizmente, hoje registramos o envelhecimento dos bons autores. E não temos revelação de textos de jovens autores. As pessoas se referem hoje àqueles que fazem bom jornalismo e boa literatura os que já passaram dos 50 anos. Nos anos 1970 havia gente de 20 anos escrevendo muito bem porque lia literatua de qualidade. Hoje vivemos uma dupla decadência: uma de leitura, de textos de qualidade, e outra de modelos que são apresentados à juventude, que são contramodelos. O único critério da música hoje é do consumo. Já pensou se Beethoven ou a geração dos anos 1960 pensasse assim? Não teríamos música.

 

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