A Federação da Agricultura de Santa Catarina (Faesc) divulgou na manhã desta sexta-feira (16) uma Carta Aberta metralhando com críticas, das mais contundentes, o governador Carlos Moisés da Silva, por suas informações despropositadas e infundadas sobre os defensivos agrícolas.
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O documento chama o governador de desinformado e o acusa de estar destruindo o patrimônio agrícola dos catarinenses, construído com base em estudos, pesquisa e muito trabalho. O conteúdo da Carta Aberta é o mais crítico e contundente já divulgado por uma Federação do setor produtivo contra um governador.
Confira o texto
“Carta aberta da Faesc ao Governador Moisés
Estamos vivendo uma curiosa situação: o Brasil e o mundo consomem nossos produtos e reconhecem a agricultura catarinense como avançada, sustentável e essencial para alimentar boa parte do Planeta. No contrafluxo dos fatos, o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés da Silva, lança dúvidas sobre esse importante setor, ofendendo centenas de milhares de catarinenses que vivem direta ou indiretamente da agricultura e do agronegócio.
O mandatário desorganiza o mercado, desestrutura amplas cadeias produtivas, anula a competitividade do produto catarinense e leva pânico ao campo ao decidir – sem nenhuma análise de impacto social e econômico – aumentar a tributação de todos os insumos agrícolas de zero a 17% (única exceção: medicamentos veterinários e vacinas). Isso representa um golpe mortal para atividades essenciais como o cultivo de lavouras, a criação intensiva de animais e a produção de leite.
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A posição do governador não tem sustentação na realidade, nem na ciência. É fruto – como ele tem manifestado – de uma convicção pessoal. Mas, também é reflexo da ignorância sobre o universo rural barriga-verde e do mais profundo desconhecimento de um dos setores que, nas últimas décadas, tornou-se a locomotiva da economia estadual.
Governador Moisés, o senhor está prestando um grande desserviço ao povo catarinense. O senhor não pode subordinar a realidade dos fatos às suas pueris convicções pessoais. Por favor, estude melhor o assunto antes de opinar de forma irresponsável. Chame e ouça os técnicos da Cidasc, da Epagri, da Embrapa, das universidades.
É constrangedor perceber que nem o altissonante fato do agronegócio responder por 70% das exportações catarinenses sensibiliza o governador para uma conduta responsável e proativa em relação ao campo. Por isso, é lamentável – mas também é indesculpável – que a maior autoridade pública de Santa Catarina desconheça a magnífica estrutura de produção de alimentos que é a agricultura catarinense.
Como reiteramos várias vezes, a agricultura praticada em Santa Catarina é uma atividade orientada pela ciência e tecnologia. A produção de grãos, carnes, leite, mel, frutas, peixes, flores etc, tudo é balizado pelo conhecimento científico. Esse saber resulta de pesquisas desenvolvidas em universidades, grandes empresas privadas, centros estatais de pesquisas, enfim, em muitos núcleos de geração do conhecimento no Brasil e no exterior.
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Todos os insumos agrícolas resultam da pesquisa científica. Não há uso exagerado de nenhum desses insumos – por exemplo, uso intensivo de defensivos – simplesmente porque seria caro, desnecessário e irracional. E a agricultura precisa ser 100% racional para ser, ao mesmo tempo, ambientalmente perpétua e sustentável e, comercialmente, viável.
A desinformação do governador o faz acreditar que a agricultura catarinense emprega “muito veneno”. Essa falácia capciosa aliada ao desconhecimento move o mandatário a taxar os insumos agrícolas para o uso de defensivos (como os agrotóxicos) e, assim, hipoteticamente “diminuir o envenenamento do meio ambiente”. Esse discurso é próprio de quem nunca colocou o pé na zona rural, não tem a mínima noção do que vem a ser a atividade agrícola.
Esses ambientalistas de apartamento ignoram a luta dos produtores e empresários rurais para viabilizar uma atividade com centenas de variáveis imprevisíveis e incontroláveis como o clima, o mercado, as pragas, o excesso de normas e regulação e as decisões de política agrícola e econômica que sempre afetam o setor primário.
A agricultura catarinense é avançada, sustentável, limpa, mantenedora de milhares de empregos e exportacionista. Conjugada com sua co-irmã, a agroindústria, constitui uma longa cadeia produtiva geradora de riquezas e de ampla tributação. Expressão dessa realidade é a posição que Santa Catarina conquistou nas últimas sete décadas como:
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• Maior produtor e exportador de carne suína do Brasil;
• Segundo maior produtor e exportador de carne de frango do país;
• Primeiro produtor nacional de maçã, cebola, pescados, ostras e mexilhões;
• Segundo produtor nacional de arroz, tabaco, pera, pêssego e alho;
• Terceiro produtor nacional de erva-mate e mel;
• Maior exportador de mel do Brasil;
• Quarto produtor nacional de leite, uva, cevada e palmito;
• Quinto maior produtor de trigo.
Senhor governador, os efeitos de sua conduta são deletérios. No plano psicossocial, o senhor está começando a gerar dúvida na mente de consumidores sobre a qualidade de nossos produtos, afetando o nível de confiança do público. No plano econômico, o aumento de impostos que o senhor pretende impor a todos os insumos agrícolas (algo que nenhum país já fez) só trará efeitos negativos como:
• A majoração dos custos de produção no campo;
• A redução da produtividade média das lavouras e dos plantéis;
• A perda da competitividade dos produtos agrícolas catarinenses nos mercados nacional e internacional;
• A inflação dos alimentos com aumento do custo de vida;
• Queda da arrecadação estadual, pois os insumos serão adquiridos em outros Estados onde não há tributação;
• Desemprego e empobrecimento da população.
Governador, o senhor tem direito as suas convicções pessoais. Entretanto, em face de suas responsabilidades no exercício do cargo, essas opiniões não podem destruir um importante setor da economia e infelicitar milhares de catarinenses.
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Florianópolis, 16 de agosto de 2019.
Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc)
José Zeferino Pedrozo
Presidente.”