Já quis ter olho claro, rosto largo, nariz menor, isso aos 13. Muitos aniversários depois, eu queria ter menos celulite, barriga chapada, nenhum sinal de expressão em torno da boca. E passaram-se outros tantos anos, até entender que, se eu não estava disposta a fazer nenhuma intervenção estética, que parasse de pirar. Passei a tratar do que importa: me alimentar direito, usar protetor solar, cuidar dos dentes, maneirar no vinho e continuar caminhando uns 10 mil passos por dia.

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Caminhar é minha obsessão – ainda não diagnosticada como transtorno. Bastam 60 minutos, fones de ouvido e o par de pernas que me coube. Compridas, bem torneadas, minhas pernas nunca entraram na lista das minhas insatisfações, sempre deram pro gasto, mas agora estão recebendo atenção plena. São meu investimento a longo prazo. É delas que precisarei até 2061 – nenhuma garantia de que eu chegue lá, mas andar com fé, eu vou.

Há um ano, venho fazendo treino de força com um profissional que já conseguiu tonificá-las. Daqui para frente, é manutenção sem descanso. Nesta fase da vida, tudo o que preciso é de pernas firmes. Passadas sólidas. Agachar. Sentar. Levantar. Pedalar. Correr – não por esporte, mas para escapar dos motoristas que não desaceleram diante da faixa de pedestre.

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Subir as ladeiras de Ouro Preto. Descer a escadaria da Sacre Coeur. Cruzar Roma de bicicleta. Ir do Leblon ao Arpoador pelo calçadão. E, na volta, desembarcar do avião no aeroporto Salgado Filho, até chegar à esteira de bagagens: só aí, dá uns dois quilômetros. Desfilar numa escola de samba. Chutar uma bola que apareceu do nada. Nadar. Me equilibrar em cima de uma prancha de stand up paddle.

Dançar com ele. Dançar sozinha na sala como se estivesse no clipe de fim de ano da Globo. Saltitar durante a música escolhida para o bis do show, que nunca é lenta. Aplaudir de pé as peças que me arrebatam (e as que não arrebatam, por educação). Aplaudir de pé Fernanda Montenegro só de vê-la atravessar a rua.

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Percorrer os corredores do supermercado. Aguardar na fila de autógrafos do meu autor favorito. Descer até a portaria do prédio para pegar a pizza. Passear com o cachorro. Ficar na ponta dos pés para alcançar o livro na prateleira mais alta da estante. Sexo precisa de pernas? Lembrei, costumam ser úteis.
Tem uma garotada que se estressa com rugas inexistentes e surta diante do espelho por besteira, sem perceber que nada será mais valioso, ali na curva do tempo, do que a autonomia. Muitos cadeirantes são mais ativos que a turma dos sedentários.

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A geração millenium é rápida na digitação, mas está sempre sentada, deitada, cansada. Eles procuram acessar o futuro nas telas, quando bastaria abrir a porta de casa e sair.

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