Também acho uma beleza a Torre Eiffel, o Big Ben e a Fontana de Trevi, mas o que mais me encanta na Europa não são as atrações turísticas, e sim o estilo de vida. Lá, o transporte público é levado a sério, carro não é símbolo de status. Como os prédios antigos não têm garagem, a população procura se locomover de bicicleta, ônibus e metrô, nos casos em que não dá para ir a pé.
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As mulheres não são julgadas pelas rugas e estado civil. Envelhecer não é crime e viver sozinha é uma opção tão aceitável como qualquer outra. Alguém que chamasse uma mulher de “mal-amada” seria empalhado e exibido no Museu de História Natural.
A nudez não escandaliza. Nas praias, o topless é considerado uma atitude naturalista, e até nos parques o pessoal tira a roupa sem constrangimento, é uma saudação ao sol. A “Pedalada Pelada” (manifestação de ciclistas nus pela conscientização no trânsito) é vista com bom humor e não espanto. O corpo despido nem sempre está associado ao sexo, desnudar-se em público tem nada de erótico. Está tudo certo, ninguém agride, ninguém reprime.
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O ativismo a favor dos direitos dos negros, mulheres e comunidade LGBTQIA+ é cotidiano. Até em tapumes de obras vemos frases motivacionais em defesa da igualdade. Em casas de espetáculos, há painéis de led reforçando o empoderamento das chamadas minorias. O clima é de atenção plena às questões humanistas. Passeata todo dia, toda hora. A rua é um palanque aberto para quem quiser protestar contra o aumento do custo de vida, contra a corrupção, contra os ataques ao meio ambiente. Faz parte da rotina.
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Livrarias são templos, mesmo as mínimas, especialmente as mínimas. Em muitas delas, os proprietários colocam os livros sobre uma mesa na calçada e o pedestre pode escolher um título que lhe agrade, deixando a quantia que quiser. Sem falar nos músicos que tocam ao ar livre, nos malabaristas, dançarinos, grafiteiros. As cidades são como devem ser: alegres e agregadoras.
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As lindas praias do litoral brasileiro atraem muitos turistas, mas até quando viveremos atrasados em relação a costumes que não precisam ser exclusividade de países desenvolvidos? Todas as nações têm problemas difíceis de resolver, os nossos são gravíssimos (fome, violência), mas eliminar a caretice não é tão complicado, depende de prezar mais a cultura do que o dinheiro, mais a educação do que o consumismo. Que Europa é essa que a gente tanto admira lá fora que não pode ser reproduzida um pouquinho aqui dentro?
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Não precisamos dar em troca nossa autenticidade, que é preciosa, mas seria um avanço se buscássemos nosso ideal de destino exatamente onde estamos.
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