Iniciei carreira como colunista de jornal em 1994, no finalzinho do governo Itamar Franco. Meu texto de estreia denunciava uma tendência retrô: a de que casar virgem estaria “voltando à moda”. O segundo texto foi sobre mulheres que tomavam a iniciativa de chamar para sair. O terceiro, sobre o casamento não ser mais o único objetivo de nossas vidas. Virou um nicho: relacionamentos. Ciúmes, erotismo, religião, rock’n’roll, cinema, topless, homossexualidade, aventuras cotidianas. Escrevia sobre tudo, pois tudo envolve a relação entre as pessoas. Incluindo a política.

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Sobre o governo FHC, acho que palpitei três ou quatro vezes – em oito anos. Sobre o governo Lula, um pouco mais. Mensalão, Petrolão: deixei clara a minha bronca. Mas eram opiniões avulsas, não representavam meu trabalho como um todo. Isso até 2016, quando estarreci ao ver um deputado homenagear um torturador dentro do Congresso Nacional – me senti insultada. Não gosto de política e nunca demonizei ou santifiquei alguém: por mim, continuaria dando pitacos vez que outra, mas àquela altura eu tinha construído uma reputação de credibilidade e seria covardia não expor minha indignação com o Brasil desaforado e perigoso que saía do armário.

Passei a escrever, mais do que de costume, sobre os valores em que acredito, criticando quem ameaçava abertamente a democracia. Não estava em defesa específica de ninguém e de nada que não fosse a civilidade. Fiz o que achei que devia e aqui, por ora, termina essa etapa.

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Até que eu me sinta novamente horrorizada, não pretendo voltar a este assunto, mude o inquilino do Planalto ou não. Foi um processo doloroso e espero que tenhamos aprendido com ele. De minha parte, me sinto mais madura e mais íntegra como profissional. Arrisquei uma situação confortável para dar a cara à tapa – e me estapearam, mas não tanto quanto apanharam diversos outros colegas, a quem me solidarizo. Não foi fácil atravessar essa tormenta. Tentamos informar, conscientizar e combater fake news, mas não somos donos da verdade. A população é imensa e soberana. É dela que virá o veredito.

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Não virarei as costas para a política – a desinformação é uma arma letal que apontamos para nós mesmos – mas, daqui para frente, voltarei a compartilhar reflexões sobre filmes, livros, dores, amores, descobertas, viagens, confidências. O universo entre quatro paredes, enquanto a vida corre lá fora. Sentimentos solares e o breu de cada um.

As crônicas continuarão sendo um espelho do que sinto, vejo, temo e penso, mantendo a leveza da qual nunca me apartei. De resto, não são os eleitores que ganham ou perdem uma eleição, nem mesmo os candidatos. É o país. Sua história continuará sendo escrita. Que não venham páginas muito duras.

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