Com relação tenso episódio (com final feliz) vivenciado pelos familiares da pequena Iara Nogaretti em Imarui no sul do Estado, recebi do jornalista Gilberto Motta (coincidentemente meu querido irmão), a crônica que peço licença para publicar na coluna desta segunda-feira. Em meio a tantas tragédias, um outro olhar sobre um fato que certamente nos elevou à condição de seres humanos com sensibilidade e amor:

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Jurema, meu amorzinho

“A menina de dois anos que estava desaparecida, desde a tarde de quarta-feira (5), foi encontrada na manhã desta quinta (6), em Imaruí, no Sul do estado. Ela estava caminhando por uma estrada de terra, próximo a uma ponte e ao local do desaparecimento. Ela passa bem.”


Tá legal…”Ela passa bem”, pelo menos acalmou todo mundo. Eles ficaram preocupados comigo, mas acho que o certo seria, “elas passam bem”. Sabe, Jurema, nem sempre compreendemos gente grande. Ficam apavorados assim, de repente, mesmo quando a gente está brincando de esconde e pega pela estrada e no matinho. Tá, tá legal…você e o Branquinho correram pelo portão e eu fui atrás com medo de perder vocês. Não, Jurema, não tô brava com você… só pensei que soubesse o caminho de volta pra nossa casa. Naquela hora que o Branquinho decidiu voltar e pedir socorro pra mamãe, juro de verdade, pensei que a gente ia levar umas boas chineladas.

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“Após 21 horas de buscas, o capitão do Corpo de Bombeiros, Leandro Marques, encontrou Iara Nogaretti, dois anos, caminhando pela estrada de barro próxima à propriedade dos pais. Apesar de ter passado a noite fria no mato, a menina está bem e sem ferimentos. O resgate foi às 10h45min desta quinta-feira.”


Tá certo…quando foi escurecendo e ficando mais frio, eu tava com um medão danado…Você não ficou, não, Jurema? Com medo? Não mente…Eu não enxergava mais nada e só sentia o calor do teu corpinho e por isto eu te abraçava tão apertadinho…Sabe, eu até tive vontade de chorar, mas não tinha mais ninguém além da gente naquele mato escuro e eu só pensava se o Branquinho tinha achado o caminho de casa e chegaria a qualquer momento com a mamãe e o papai, que afinal é bombeiro e já salvou um montão de gente!…é…mas agora era nós que eles teriam que salvar.


“O reencontro com a mãe, Jordana, foi emocionante. Sob aplausos, gritos e uma oração coletiva, Iara foi levado para o colo da mãe pelo capitão Marcos, do Corpo de Bombeiros de Tubarão. Segundo informações da equipe de resgate, a criança passou a noite na mata. Bombeiros de toda a região, a polícia, vizinhos, colegas de serviço e toda a comunidade ajudaram nas buscas. Foi um exemplo de cooperação com final feliz.”


Tá diferente…as pessoas não brigaram com a gente, nem a mamãe deu de chinelo…puxa vida, Jurema, às vezes é até bom a gente ficar longe um pouquinho, né?…mas não…não Jurema…nós duas sabemos que o medo de perder quem amamos, a mamãe, o papai, os amiguinhos, ah…e o Branquinho, é a maior tristeza que sentimos naquele frio da noite escura no meio do mato. Mas o céu tinha um montão de estrelas, não tinha Jurema? Ah, cachorrinha quentinha e cheirosa…Jurema, meu amorzinho!

Nota do autor

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A vida no jornalismo é como a história da menina Iara, de sua família, da comunidade em que vivem e dos seus dois inseparáveis animaizinhos, Branquinho e a valorosa cachorrinha Jurema. Creio que a Iara, ainda muito pequenina, não tem condições de abstrair e organizar em forma de crônica a magnífica experiência que – de alguma forma – a marcará para toda a vida e por isto resolvi dar uma ajudinha. Felizmente, as lembranças serão positivas. Tudo acabou bem. Jamais esquecerei o abraço da mãe, o sorriso da menina e a alegria discreta daquela cachorrinha pretinha como um pedaço de carvão. Lembrei-me dos dias (com alguns poucos anos a mais que a Iara) ouvia, junto com meu irmão, o nosso pai lendo e interpretando o livro mágico de José Mauro de Vasconcelos, Rosinha, minha canoa. 
Dai…Jurema, meu amorzinho…