Basta uma passadela de olhos nas redes sociais para ver:
“…eu só saio de casa porque eu quero respirar!”,
“…coloco a máscara e vou andando até a lanchonete onde trabalho, mas vou com medo”,
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“…não entendo porque tanta gente junta sem um objetivo, loucura?”,
…eu tenho o direito de ir onde eu quiser, não tenho?”.
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No ponto de subida da curva da covid-19, talvez seja o momento de refletir sobre o “Direito de NÃO sair”.
> Em site especial, leia tudo sobre o coronavírus
Não há transporte público. Mas eu vou.
Não há dinheiro circulando. Mas eu preciso abrir a loja.
Não há comércio aquecido e liquidações. Mas eu não aguento; eu tenho que sair. É possível não haver leitos, UTIs e respiradores suficientes se não ficarmos em casa. Mas eu saio.
Exagerei um pouco nesta abertura para provocar reflexões fundamentais.
Vivemos a maior tragédia coletiva do planeta dos últimos 100 anos e não conseguimos enfrentar o maior dos inimigos. Não falo do coronavírus, pois sabemos da sua competência para infectar e matar milhares de pessoas de qualquer cor, etnia, credo, sexo e por aí vamos.
Vírus “democrático”. Fulmina de forma ampla, geral e irrestrita.
Vamos refletir sobre outra forma de pulsão, estímulo catalisador, desejo que nos orienta (ou desorienta?) e nos move na direção das ruas: sair do isolamento, ir pras ruas…já!
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Vida X Economia
Prefiro nem entrar na polêmica entre Vida X Economia. Discussão improdutiva, pois ambas as questões envolvidas são importantes e complementares.
Novamente as frases nas redes:
“…sem emprego eu não como, Mário…qualé?”,
“….tá, o trabalho é quase tudo, mas VIVER é fundamental, né?”,
“…acho esta briga burra. Caraca, basta a gente entender que o vírus não escolhe cara, ninguém…é ficar em casa e dane-se o resto”,
“…fila, neste momento, é tentativa de homicídio, cara!”.
Governos, autoridades sanitárias, pessoas comuns como nós todos, no mundo inteiro estão questionando como planejar e realizar a saída gradual do isolamento/quarentena de forma segura e capaz de garantir os empregos daqueles que ainda estão empregados; e a sobrevivência especialmente dos “sem nada, sem direitos”, os “invisíveis”, aqueles milhões de seres que vendem o que podem durante o dia para levarem o que comer à noite para a família.
A questão é de bom senso, não de lei.
Bom senso, ética, valores que independem de uma “lei jurídica”, pois basta a empatia, o amor ao próximo, a troca de lugar com o outro.
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É hora de contrapormos estes dois valores:
Desejo X Necessidade
E entre o desejo e a necessidade absoluta de sair, circular, deixar o isolamento de sua casa e partir para a exposição pessoal (e o pior, do teu semelhante) nas ruas, há um importante processo operando dentro da tua cabeça. Da nossa cabeça, pois também vivo as mesmas dificuldades, aflições e desafios.
Não há transporte público. Mas você sai.
Não há lei te proibindo de ir e vir. Mas você quer/deseja ir. As instituições e organizações da sociedade pressionam os governos e começa o processo de flexibilização chamado de gradual, por etapas.
A cidade explode e vira um caldeirão em movimento e ebulição.
Perfeitamente “normal” e previsível, afinal, quase 40 dias confinados fazem de qualquer pessoa um bicho enjaulado, com medo da morte imposta por um inimigo invisível, implacável, rápido e voraz. E só nos resta o: Vamos para rua.
O fator decisivo deveria ser o da reflexão, o da razão: QUESTIONAR SE HÁ A NECESSIDADE ABSOLUTA DE QUE EU SAIA ÀS RUAS?
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E se a resposta for SIM, devemos tomar todas as precauções amplamente alertadas pelas autoridades sanitárias através da mídia, principalmente o uso de máscara, álcool gel, distanciamento de outras pessoas e evitar aglomerações.
E ao retornar, claro, tomar todas as medidas higiênicas de limpeza das roupas, cabelos, sapatos antes de entrar em casa.
É neste conflito que podem surgir as diferentes soluções para cada um de nós que, somadas, poderão nos levar a uma transição do pico da morte pelo vírus para a necessária e fundamental flexibilização gradual do isolamento social que nos deprime, nos enlouquece, nos coloca na massa de desempregados “invisíveis”, mas também nos garante a vida. Nos salva.
FIQUE EM CASA E SE NECESSITAR IR ÀS RUAS…TOME AS PRECAUÇÕES E VÁ, mas lembre-se que o direito de sair/não sair também impõe o dever de respeitar a vida de todos.
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Sobreviveremos?
Espero que sim.
Então vamos em frente.