Em tempos de Pandemia e isolamento, tenho rebuscado na memória algumas histórias que marcaram esses 50 anos de vivência nas comunicações. Outro dia, contei a história do livro – Ternura para sorrir e chorar – que perdi por 34 anos e que voltou às minhas mãos como um passe de mágica.
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Nesta segunda-feira, faço um #tbt que além de curioso é muito marcante para meu sentimento de carinho e respeito por uma família muito especial para todos nós. Falo dos Kuerten.
Meu primeiro contato com a família Kuerten marcou um episódio que só ganhou a dimensão que tem, pelo desenrolar dos acontecimentos com nosso maior prodígio do tênis. Corria o ano de 1988 e eu, que já ancorava o Jornal do Almoço há dois anos, fui convidado pelo Diretor de Programação – Délcio Fiorin para assumir a Coordenação de Esportes da então RBS TV, acumulando as funções.
Nessa ocasião já tinha ao meu lado Maria Odete Olsen (que havia sido guindada do Bom Dia Santa Catarina para editar e coordenar o JA, além de compor comigo o casal apresentador, seguindo o que já acontecia no Jornal do Almoço do Rio Grande do Sul com Mendes Ribeiro e Maria do Carmo, seguido por Lazier Martins (que substituiu Mendes Ribeiro, eleito Deputado Federal).
Com relação à coordenar o Esporte na TV, minha formação (Educação Física e Técnico desportivo em 6 modalidades) contribuiu muito para o convite e o aceite-se só aconteceu após o atendimento de duas condições: efetivar como Editor de Esportes o então responsável pelas chamadas da RBS – Carlos Wanderlei e a definição de um câmera exclusivo, com equipamento para o Esporte (até então, as poucas matérias esportivas do Jornal do Almoço eram feitas quando sobrava um câmera, chamando na corrida o então repórter Sérgio Alves (irmão mais novo do Roberto Alves, nosso principal concorrente em audiência, ainda na TV Cultura).
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Além do competente Carlos Wanderlei (hoje proprietário da TV Clipagem) que foi deslocado para atender o esporte, recebemos um jovem cinegrafista – César Lins, caprichoso no foco e dedicado na elaboração das imagens.
Essa somatória profissional, muito contribuiu para o sucesso e empatia quase imediata das novas matérias que passaram a ser produzidas para o Jornal do Almoço. A resposta foi tão positiva que pouco tempo depois conseguimos trazer da TV Barriga Verde, um dos melhores repórteres da época – Carlos Eduardo Lino (posteriormente comentarista da RBS TV, da Rádio CBN Diário, com passagem pela TV Bandeirantes de São Paulo e hoje um dos grandes nomes do canal a cabo – Sport TV).
Eu só ancorava o Jornal, já que o apresentador das notícias do Esporte em um bloco específico, era meu colega Marcos Ouriques, aliás, um dos melhores apresentadores que vi atuar no esporte catarinense. No entanto, até que trouxéssemos Lino como repórter, eventualmente eu também ia para a rua gravar matérias de acordo com a necessidade. E foi exatamente numa dessas ocasiões que eu cruzei com os Kuerten pela primeira vez.
Aproximava-se o Dia das Mães, e tivemos ideia de buscar uma mãe que incentivasse os filhos na prática do esporte. Fui ao restaurante da TV (como a RBS/NSC era no Morro da Cruz distante do centro, havia um restaurante próprio, pequeno, mas bastante confortável para atender os funcionários que permaneciam durante todo o dia lá em cima) e perguntei se alguém conhecia uma mãe com aquelas características.
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Um primo de dona Alice Kuerten, que trabalhava em nossa área comercial, levantou a mão:- “Minha prima. Ela é uma mulher batalhadora. Perdeu o marido há pouco tempo, curiosamente numa quadra de tênis apitando um campeonato. É mãe de 3 filhos, um deles deficiente físico numa cadeira de rodas e os outros dois ainda jovens, mas grandes promessas nos esportes que praticam. Ela é secretária da Direção da Telesc e acho que é merecedora de uma reportagem como essa.” Adorei a indicação, pedi que ele fizesse o contato e tão logo veio a resposta concordando em nos receber, lá fomos nós rumo aos Kuerten.
A matéria foi feita com muito carinho, na antiga casa onde moravam, início da subida do Morro da Lagoa (Rodovia Admar Gonzaga). Os “meninos” já justificavam sua presença no mundo esportivo da TV, afinal – Rafael, 14 anos já havia sido Vice-Campeão brasileiro na categoria até 10 anos e era o 5º. do Ranking Brasileiro até 16 anos. Gustavo, era o primeiro do ranking até 12 anos, o terceiro no ranking do Centro Sul – o mais evoluído do país naquela oportunidade, e havia ganho recentemente o troféu de Atleta Revelação no Centro Sul de Tênis.
Fomos ao trabalho. Produzimos o café da manhã em família, a chegada dos meninos da escola e a saída para o treino na escolinha de tênis da Astel, sonora com os dois e com dona Alice, fechando nossa principal matéria para a véspera do Dia das Mães com a entrega de flores pelos 3 filhos à dona Alice.

As imagens dessa matéria foram usadas muitos anos depois (2018), pela produção do programa Caldeirão do Huck, para reconstruir a casa onde Guga passou a infância, num quadro muito especial denominado Revivendo o Passado. Mas, o que motivou toda essa narrativa vem agora.
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Ao encerrar a matéria, antes de sair do quarto dos meninos, percebi que sobre uma pequena estante havia algumas bolinhas de tênis bastante gastas, certamente não mais utilizadas em jogos e levadas por eles para casa. Tomei uma delas nas mãos, e intimei Gustavo e Rafael:- “Essa bolinha é minha e eu quero um autógrafo de vocês dois. Vai que um de vocês chegue a ser o número um do mundo um dia, né?”. Os dois assinaram com dificuldade, usando uma velha caneta Bic e em letra de forma com seus nomes Rafael e Gustavo. E mantenho essa bolinha comigo até hoje.

Ganhei outras autografadas pelo Guga (a direita da foto é uma delas), e até uma embalagem própria para para que eu pudesse guardar minha bolinha número um e essa não tem preço.
Se você quiser ver aquela matéria do Dia das Mães na íntegra, clique aqui e curta…