A missa corria solta, envolta num clima de contrição e arrependimento. Afinal, era véspera da Páscoa e aquela data, muito mais que qualquer outra, era dedicada à meditação e ao tradicional pedido de “perdão” pelos pecados cometidos que pareciam ter causado todo aquele sofrimento ao Senhor Jesus Cristo há tantos anos.

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Mas os milagres de Cristo e a “ressurreição” falavam mais alto.

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Lá no alto do púlpito entalhado em carvalho, Padre Carmelo esmera-se no Sermão:

–“… E naquele tempo, Jesus demonstrava seus poderes e com apenas cinco mil pães, deu de comer a cinco homens…”

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Opa !! Ainda que sonolento na primeira fila, Cícero Bento não perdoa a troca dos números por Padre Carmelo e deixa vazar em voz alta o que deveria ser apenas um abusado pensamento:

– “Ah, isso eu também faço… Cinco mil pães prá cinco homens??! Moleza.”

Um riso geral na igreja superlotada, contrastando com o silêncio emoldurado pelo rosto avermelhado do Padre Carmelo lá no alto do púlpito, optando por calar-se diante do erro numérico cometido e da ágil “presença de espírito” de Cícero Bento.

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Um ano passa rápido

De novo a véspera da Páscoa.

A igreja superlotada pela importância da data e da celebração. Novamente no alto do púlpito Padre Carmelo preparando-se para o Sermão, ou seja – o momento mais importante da missa depois da consagração.

E seguindo o ritual da data, o mesmo texto vem à boca de Padre Carmelo que agora capricha:

–“… E naquele tempo, Jesus demonstrava seus poderes e com apenas cinco pães… eu disse CINNNNNCO pães, deu de comer à CINCO MILLL homens…”.

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> Senta que lá vem história: Passa Dunque…

E olhando para um sonolento Cícero Bento sentadinho ali, no mesmo lugar da primeira fila, pergunta desafiadoramente:

– “Faça agora que eu quero ver …”

E Cícero responde de bate pronto, comprovando que de sonolento, era só aparência:

– “E faço mermo… Com a sobra do ano passado !”

> Então isso é água?

PS: Essa historinha é uma singela homenagem ao maior humorista brasileiro de todos os tempos, que me contou em forma de anedota no camarim da RBS TV, momentos antes de uma entrevista que nos concedeu no Jornal do Almoço há muitos anos.

Chico Anysio
(Foto: Arquivo)

"A saudade tem cheiro, tem gosto, tem rosto, tem nome e sobrenome. Sim, a saudade hoje se chama CHICO ANYSIO”.

Francisco “Chico” Anysio de Oliveira Paula Filho
– um cearense nascido em 1931 na cidade de Maranguape, Ceará e falecido em 23 de março de 2012 no Rio de Janeiro. Iniciou a carreira na rádio, escreveu peças teatrais, livros e poesias. Estreou na televisão em 1957, gravou LPs, dirigiu programas humorísticos, formou e lançou muitos talentos e deixou 209 personagens criados e interpretados, cada um com sua marcante individualidade.