Iniciei nas comunicações na Rádio Piratininga da cidade de Tupã, centro oeste paulista em meados dos anos 60. Até então vivíamos como nômades pelo estado com uma companhia artística do Circo Teatro Motinha e Nhá Fia (meus pais), que marcou época pela qualidade de suas montagens teatrais e um show musical que compunha a segunda parte do espetáculo.

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Para que eu e meu irmão pudéssemos completar os estudos (eu chegara a oitava série do ginásio (atual ensino fundamental), fazendo em média 16 transferências por ano, tornando impossível a formação de uma base pedagógica consistente nas principais disciplinas que compunham o Núcleo Comum, já que as Disciplinas Optativas dançavam de acordo com a preferência da escola, da região ou do próprio diretor que montava o currículo.

Assim que decidiu fixar residência em Tupã (adquirimos um pequeno Hotel), meu pai foi convidado a assumir um programa radiofônico, aproveitando o nome nacionalmente respeitado no meio artístico que fizera em dupla com minha mãe, a partir da Rádio Bandeirantes de São Paulo antes da decisão de assumir a vida circense.

Eles mantiveram por um bom tempo, um programa sertanejo de auditório nas manhãs da Bandeirantes, denominado Na Serra da Mantiqueira. Meu pai aceitou o convite e apresentava um programa de músicas de saudades nas noites da Rádio Piratininga de Tupã. E o fazia como hobby, já que não recebia pela produção/apresentação do programa denominado No Tempo do Motinha.

Comecei a frequentar a emissora ao lado do meu pai e quando possível, “brincava” de locutor provocado/estimulado pelo senhor Motinha, como se já percebesse que aquele seria um dos meus destinos profissionais. Em pouco tempo fui convidado a fazer um teste pelo gerente da emissora – Ronaldo Goy, e quando menos esperava me vi trabalhando como locutor da Rádio Piratininga de Tupã.

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No início fazia de tudo um pouco – locução, discoteca, mesa de som, programas sertanejos, musicais jovens, Ave Maria (sempre as 18 horas), coberturas esportivas, políticas, etc… Lembro-me como se fosse hoje minha alegria quando fui chamado à sala da gerência por José Ananias Neto e comunicado que seria efetivado depois do período de 90 dias de experiência.

Comecei ganhando um pouco menos que o salário mínimo da época (se não me engano, cerca de 900 cruzeiros), o suficiente para me aventurar imediatamente rumo ao comércio local e comprar um gravador portátil que iria me proporcionar uma vantagem exponencial sobre os demais repórteres.

Fui à Eletrotécnica Brasil, pertencente a Sra. Ondina Bertoli e comprei um gravador portátil (mas com rolos de fita magnética) da marca Crowncorder que mais assemelhava-se a uma maleta tipo 007. O microfone era guardado numa pequena gaveta e além das seis pilhas grandes (imaginem o peso), ele também podia funcionar com eletricidade.

O que ganhava por mês era suficiente para pagar a prestação do meu gravador e isso tomou uns oito ou nove meses de trabalho, mas valeu cada centavo. Minha primeira entrevista gravada nele foi com o Prefeito da cidade à época, Carlos Eduardo Abarca e Messas em plena Prefeitura. Imaginem meu orgulho ao pedir “um momento” ao alcaide para montar meu gravador portátil e iniciarmos a entrevista.

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E tive o privilégio (sim, tomo como um privilégio) de iniciar na carreira, numa época em que com a quase inexistência de cursos técnicos ou superiores de comunicação, você tinha que aprender no campo da realidade. Errando e dominando o caminho para superar o erro e aprendendo por onde caminhar para fazer o certo.

Aprendendo a fazer,
Aprendendo a fazer, “fazendo”. (Foto: Arquivo Pessoal)

Fui o primeiro repórter da cidade a ter “seu” próprio gravador portátil. Mas, era exatamente isso que eu queria – avançar na tecnologia, estar um pouco à frente do meu tempo e acreditar que todo investimento pessoal em conhecimento me levaria a crescer, ou seria – evoluir?

Mais tarde ouvi a frase que me esclareceu a dúvida e me guia até hoje: “Evoluir é muito mais que crescer. Crescer é ficar maior. Evoluir é ficar melhor. “

Nunca me conformei apenas em crescer. Até hoje.