Continuo dividindo com vocês alguns dos momentos mais emocionantes que vivemos na capital Portenha quando a coordenação do Jornal do Almoço decidiu produzir sua primeira experiência internacional e gravar – em conjunto RS e SC – um Jornal do Almoço em Buenos Aires. E entre as maiores emoções que vivemos, está uma entrevista exclusiva que fizemos Lauro Quadros e eu – com o mais importante compositor de tangos de todos os tempos – Mariano Mores – nos recebeu como um velho amigo. Para os mais jovens, importante conhecer um pouco de sua biografia.
Continua depois da publicidade
Mariano Alberto Martínez, mais conhecido como Mariano Mores e como Marianito Mores em seus primeiros anos foi um músico, pianista, compositor, maestro de orquestra, autor de vários dos mais famosos tangos da história da música argentina, entre os quais: Uno, Cafetín de Buenos Aires (com Enrique Santos Descépolo), Tanguera, Adiós Pampa Mia. El firulete, entre outros.
"Uno" e "Adiós pampa mía" estão entre os dez tangos mais populares do mundo, pelos quais ele recebeu 26 discos de ouro e platina. Mariano Mores foi eleito pelo voto popular em 2000 como "Melhor compositor de tango do século" e seu tema Taquito Militar foi eleito "Melhor milonga do século". Produziu um grande número de revistas que combinavam música, dança, teatro e humor, entre as quais Goodnight Buenos Aires (1963), Buenos Aires cantam o mundo (1966), eu canto para a minha Argentina (1973), etc.
Nos filmes, trabalhou como ator e músico em filmes como Doctor wants Tangos, Corrientes, La voz de mi ciudad, e como músico em Boa Noite Buenos Aires (1064). Vários membros de sua família juntaram-se a seus shows formando um grupo familiar artístico conhecido como a família Mores, ao lado da esposa Myrna e filhos.

Marianito Mores nos recebeu em seu apartamento numa rua tranquila de Buenos Aires. A cobertura de um pequeno prédio de 4 andares com uma sala espaçosa, o suficiente para receber um piano de cauda e sofás suficientes para abraçar os amigos. Foi assim que ele nos recebeu – como "amigos brasileiros".
Continua depois da publicidade
As paredes rodeadas por fotos – quase todas com personalidades mundiais ao seu lado. Numa delas, com Frank Sinatra, em outra com o Papa João Paulo II. Estava a caráter – com smoking e gravata borboleta, como se preparado para uma apresentação de gala como nos muitos shows que costumava apresentar-se nos teatros da capital portenha para turistas e amantes do tango.
Contou-nos uma história com os olhos brilhando – quando o Papa João Paulo II veio à Argentina, Mariano Mores estava no saguão do aeroporto de Ezeiza aguardando o Papa para cumprimentá-lo. Um coral de quase 3 mil crianças foi preparado para recebe-lo na cobertura da estação de passageiros cantando Adiós Pampa Mia (uma de suas composições de maior sucesso de todos os tempos).
O Papa, ao sair do avião, parou no alto da escada e percebeu que as crianças entoavam aquela melodia marcada do ritmo do tango. Não se fez de rogado. A Telefe (TV Oficial da Argentina) que cobria sua chegada, deu um close no Papa e foi para seu pé que, sob a batina branca – marcava o ritmo do tango, como se fosse o maestro daquele imenso coral cheio de vida e esperança.
Marianito falou muito, disse que adorava o Brasil e muito especialmente Ari Barroso e a música popular brasileira. Confessou seu amor por Tom Jobim e Roberto Carlos. E depois de nos conceder uma entrevista sem qualquer pressa, pediu licença para prestar uma homenagem ao nosso país e aos brasileiros que ali estavam. Sentou-se ao piano, executou uma introdução bastante familiar aos nossos ouvidos – com a perícia de quem não precisava da partitura e soltou a voz já enfraquecida pela idade, mas afinada para quem não se dizia um cantor – Aquarela do Brasil (Brasil, mi Brasil brasileño. Mi mulato inzoneiro. ¡Voy a cantar en mis versos…!).
Continua depois da publicidade
Confesso sem qualquer pudor – eu, Lauro Quadros e os colegas da produção fomos às lágrimas. Marianito Mores morreu em Buenos Aires em 13 de abril de 2016 aos 98 anos de idade.
Na próxima coluna, outra grande emoção que vivi ao lado do jornalista Paulo Santana – entrevistamos o maior cantor (até então em atividade) da história contemporânea do Tango Argentino – Roberto Polaco Goyeneche.
Eu conto na próxima coluna…