Nasci em um Circo, o Circo Teatro Motinha e Nhá Fia. Essa parte da história imagino que vocês já conheçam. O que talvez vocês não saibam, é que se por um lado sinto muito orgulho da minha origem, por outro carrego algumas frustrações.

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Ternura para sorrir e chorar

Nunca “passei por baixo” da lona lateral do Circo para assistir gratuitamente o espetáculo (afinal, estaria jogando contra a minha propriedade, não é? O Circo era nosso…), além de “nunca ter ido à matinê de um Circo” assistir e rir com o Palhaço. Isso era impossível, pois naquela hora eu era o próprio.

Pernalonga, era meu nome como palhacinho.
Pernalonga, era meu nome como palhacinho. (Foto: Arquivo Pessoal)

É, aos quatro anos de idade eu já pintava a cara e enfrentava o público como o Palhaço Pernalonga nas tardes de domingo. Mas, porque aquelas pessoas riam tanto? Minhas piadas eram tão sem graça! Muito mais para mim, que já as conhecia “de cor e salteado”.

Aliás, lembro-me com carinho da minha primeira “criação humorística”. Inventei-a no fundo do palco, escondido. Coloquei uma banana no interior da camisa e no meio do picadeiro após retirá-la, exclamei com espanto:

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“Puxa, estou grávido de uma banana!”

Ninguém riu. É evidente. Apresentei este número uma única vez, antes de ser retirado pelas orelhas por meu tio – o Palhaço Tira Prosa – com a devida bronca:

”Marinho, você ficou louco ? Onde já se viu falar “grávido” em pleno picadeiro?”

Pois é, os tempos mudaram. Hoje é quase comum “engravidar” em pleno picadeiro. Só a minha piada ainda não mudou. Os homens continuam apenas “colaborando”. Continuamos reverenciando essas mulheres maravilhosas e sua bendita capacidade de gerar – de perpetuar a espécie.

Reverência que na minha ingenuidade, talvez eu tenha proposto naquela matinê circense há tantos anos. O ator da Rede Globo e poeta Antônio Calloni, conclui bela poesia em homenagem a mãe dele, com a seguinte ideia:

“Obrigado por tudo Mãe! Também porque foste minha primeira morada neste mundo!”

Poucas vezes uma expressão poética me tocou tanto. Lembrei-me que quase deixei minha “primeira morada neste mundo” em pleno picadeiro do Circo Piolim. Ali meus pais se apresentavam no frio março de 1952, quando minha querida mãe Nair – Nhá Fia para o público – sentiu as primeiras dores do parto.

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Fomos levados – ela e eu – para a Beneficência Portuguesa em Santo André e mesmo vivendo sempre juntos, desde então nos separamos. Tive muitas outras moradas, mas como aquela primeira – o ventre materno – nunca mais. Que saudades, Mãe! E a gente só sente saudades de coisas boas, não é mesmo?