Recebi um e-mail de uma querida leitora sobre um assunto que também mexeu muito comigo desde os primeiros dias de isolamento: o uso de máscaras.
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Lembro-me de ter abordado o assunto, mesmo quando as autoridades da saúde diziam “oficialmente” que as máscaras deveriam ser exclusividade dos agentes da área (médicos, enfermeiros, técnicos, etc) e de quem já apresentava sintomas.
Naqueles dias, recebi um vídeo produzido na República Tcheca, mostrando que a única atitude diferente tomada por lá, em relação aos demais países da Europa, era exatamente o uso de máscaras (caseiras) pela população. A campanha ganhou as ruas, contou com a cultura de enfrentamento histórico de guerras e dificuldades do povo tornando-se um imenso sucesso. Prevenir e proteger. O uso das máscaras fez a diferença.
Claro também que alertaram para o fato de que as máscaras não seriam (como não são) panaceia para todos os males da Covid-19 e sozinhas não conseguiriam proteger num percentual tão elevado que justificasse uma “obrigatoriedade”, mas certamente ajudariam -e muito- na diminuição da transmissão entre as pessoas que precisassem sair de casa por qualquer que fosse o motivo.
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Recordo que, como não se tratava de um vídeo produzido pela OMS, pelo Ministério da Saúde ou qualquer outro órgão “oficial”, não deveria dar-lhe divulgação e credibilidade, exatamente pela falta dessa “chancela” que lhe garantiria a segurança real de um conselho sério. Mas, é evidente que temos o bom senso, temos a capacidade de tentar compreender até onde uma iniciativa como aquela poderia ter interesses duvidosos capaz de causar problemas ou danos se fosse divulgada.
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Logo em seguida, um novo vídeo, produzido em Hong Kong, também enaltecia o uso das máscaras pela população e por aqui o conselho ainda era o mesmo: “Máscaras profissionais, por agentes de saúde apenas. E ponto final!”.
Aliás, as máscaras “oficiais”, "cirúrgicas" – produzidas industrialmente de acordo com as normas da ABNT – sumiram das farmácias e somente 3 ou 4 semanas depois as pessoas foram percebendo (viralizou nas redes sociais) o fato de que cada um poderia confeccionar a sua própria máscara de forma artesanal, caseira, ou semi-industrial e que por menor que fosse seu percentual de proteção, seria muito melhor do que "nada" sobre o rosto. Melhor prevenir do que nem ter como remediar.
Reproduzo aqui o e-mail dessa querida leitora. Preservo seu nome porque o que mais me interessa (e tenho certeza também a ela), é expressar o seu pensamento, com o qual concordo totalmente.

“Boa tarde Mário,
Desculpe pela intimidade, mas me dou este direito, pois sou sua admiradora e expectadora. Desculpe também pelo jeito simples de me expressar. Meu nome é (…), tenho 53 anos, estou trabalhando em casa pois tenho pressão alta.
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Dias antes do decreto de isolamento por parte do governo, amigos e familiares, me recomendavam não sair para o trabalho, pois como já citei, sou hipertensa e faço uso de três ônibus por dia, uma vez que moro na ilha e trabalho no Estreito, próximo ao Detran. Eu respondia que iria trabalhar sim, mas levaria meu álcool, lavaria as mãos na troca de terminais e usaria máscara, uma vez que não sabemos quem tem ou não o vírus. Mas veio o decreto e ficamos em casa.
Mas a OMS, os especialistas, os infectologistas e todos os demais "istas" diziam:
"O uso de máscara é só para profissionais da saúde e pessoas com sintomas".
Como assim? É um vírus … E não é qualquer um … Em muitos casos é letal … E nem todos apresentam sintomas. É uma doença nova, sim, entre aspas, pois já havia o exemplo de outros países em relação ao contágio e mortandade e afinal de contas é vírus e todos sabem como se transmite.
Na minha opinião, Mário, não foi um erro e sim um crime a recomendação de não usar máscara e a prova disto é que agora o uso é obrigatório. Enfim, se desde o início, se todos usassem, teríamos menos doentes, menos leitos ocupados, menos mortes, menos desempregos, menos gastos públicos e menos famílias chorando a perda dos seus entes queridos.
Mario, mais uma vez me desculpe, não tenho nenhuma pretensão ao enviar este e-mail a não ser expressar a minha opinião, indignação e minha raiva. Tomara Deus que não tenhamos que passar por outra calamidade deste gênero nesta vida, mas se acontecer, fica a dica: lave as mãos, use álcool, isolamento se possível e use máscara desde o primeiro momento.
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Atenciosamente, (…)”
Sou muito grato por essa mensagem
Creio que nossa missão é informar, mas também é provocar e estimular nossos leitores, ouvintes e telespectadores a compreenderem os fatos, descobrirem até onde eles caminham na direção correta, adequada e de que forma cada um de nós pode contribuir para encontrar o melhor caminho. Se for um problema, que tentemos encontrar ou sugerir soluções. Mesmo que – eventualmente – essas sugestões conflitem com as “orientações oficiais”.
Nesse caso, o ideal é refletir, trocar ideias com outras pessoas que pensem iguais ou diferentemente de você; mas nunca calar-se, silenciar-se. E se alguma coisa não ficar bem clara, segura e positiva, acatar as possíveis opiniões de melhor qualidade e adequação ao problema.
Poderia comparar essas determinações oficiais com as "leis", não?
As leis foram feitas para serem … cumpridas.
Óbvio.
Mas também para serem analisadas e questionadas, pois elas são “vivas”, orgânicas e refletem o tempo em que foram escritas e aprovadas. E os tempos mudam…
Portanto – se uma Lei estiver em vigor, cumpra-a, mas – se tiveres alguma dúvida do que elas defendem ou impõem no momento histórico em que você está vivendo, não deixe de questioná-las.
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Livre-arbítrio está na base do processo democrático. E em nossa Constituição.