Passamos dois anos juntos, trabalhando e estudando em casa, colados como um cacho de bananas, cada um pra um lado na casa, um em cada quarto, contudo grudados, esperando o almoço ou o jantar para novamente colocarmos o papo em dia. E durante dois anos em casa era impressionante a quantidade de assunto que tínhamos.

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A mais velha falava menos, mas a mais nova estava descobrindo a vida. Passamos dois anos conversando sobre música, tecnologia, comportamento humano, o cérebro, sonhos, os lugares que sonhamos em conhecer, as coisas que queríamos aprender, inglês, teclado, surf, jiu-jitsu, canto, e a mais impressionante das coisas, habilidade jamais alcançada por uma criança da família, dar estrelinha com uma mão só.

Quando as viagens recomeçaram, a pequena sentiu, eu senti, todos sentimos como se nosso cacho estivesse se partindo. Gradativamente, voltei para os aeroportos do Brasil e elas para a escola. A mais velha descobrindo a juventude, finalmente. Fico realmente feliz por ela, e preocupado, como jamais imaginei que ficaria, vendo-a sofrendo com os primeiros amores. A mais nova voltou feliz para a escola, para as aulas de teatro e circo, para as noites dormindo na casa das amiguinhas.

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A vida voltou ao normal de forma que muitas vezes me pergunto se minhas filhas, agora crescidas, sentem falta de mim. Como canta o Nando Reis, dos meus filhos eu sinto saudade e tenho medo que eles achem que eu não sinto a falta deles como eu acho que eles sentem de mim. Parabéns por conseguir colocar essa frase em uma música.

Na fila de embarque, quando a atendente chamou passageiros com crianças, grávidas e idosos, “ou passageiros com necessidades especiais”, perguntei se necessidade de dar um abraço na minha família valia como necessidade especial. “É uma necessidade muito especial!”, eu disse a ela. De aeroporto em aeroporto, de quarto de hotel em quarto de hotel, muitas vezes me esqueço em qual cidade estou, só sei que não estou com minhas filhas. As ligações por vídeo são, para mim, ainda mais melancólicas do que a falta de ligações. É como se filmássemos nossa distância, a falta que fazemos uns para os outros. Cada vez que dizemos tchau, fico imaginando o que farão depois, se escovaram os dentes, se dormiram quentinhas, se sonharam com coisas boas.

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É nessas horas que, como pensei tantas vezes antes da pandemia, penso em largar tudo, voltar pra casa, acordar com as meninas, almoçar com as meninas, dormir abraçado, fazer aulas de surfe, canto, jiu-jítsu, ajudar a Aurora a dar a incrível estrelinha com uma mão só. Elas estão crescendo. Elas sempre estão crescendo. A voz do aeroporto chama meu nome. O avião está indo embora. Os aviões nunca param de decolar.

Confira uma série de vídeos com imagens para inspirar:

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