Vencer o câncer

As pessoas me perguntam: “Sua mãe venceu o câncer?”. Acho engraçado, pois se acharmos que é uma luta entre a vida e a morte, veja bem, a morte sempre vencerá no final. O câncer, só quem convive com ele sabe, não se vence. Ele nos acompanha a vida toda. O importante não é vencer o câncer, mas viver bem com sua presença. Mesmo que invisível nos exames, ele nos ronda.

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O câncer é como um amor da juventude, a gente nunca supera totalmente. Sempre pode voltar. Digo isso pois em muitos momentos achei que tínhamos “vencido o câncer”. E o câncer voltou sempre. E em muitos momentos achei que minha mãe morreria logo. E ela ainda está viva. É uma experiência de eterno carpe diem. É como um bilhete que chega todo dia pelo correio, onde não está escrito “morra!”. Está escrito “VIVA!”.

Minha mãe sempre viveu. Um filho acha que a mãe é imortal, que sempre viveu no passado e sempre viverá no futuro. O cabelo da minha mãe caiu, ela ficou magra, tinha dores terríveis e desmaios.

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O câncer não se vence, porque todo mundo morre um dia, por causa dele ou não. Mas a morte não é o contrário da vida, a morte é só o contrário do nascimento. Todos chegamos em um mesmo lugar, cada um por um caminho diferente. O caminho é a parte mais importante.

A morte nos dá raiva porque parece injustiça. Pessoas muito boas morrem acidentalmente todos os dias. Pessoas que achamos que não merecem morrer. Acho que a maioria das mães se encaixa nesta categoria. Contudo, é bom lembrar: o luto é amor. É o amor sem ter para onde ir. É o amor que queremos dar, sem ter a pessoa para recebê-lo. O luto é o preço que pagamos por amar demais uma pessoa. E o amor sempre vale a pena.

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Se tivermos amado bastante em vida, na imaginária batalha entre a vida e a morte, a vida terá vencido.

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