Estava vendo um documentário fantástico sobre os últimos dias dos americanos no Vietnã. Aquelas multidões tentando fugir de qualquer forma de Saigon, cidade prestes a ser tomada pelas tropas comunistas do Norte. Durante o documentário fiquei divagando sobre como era agradável assistir um documentário sobre o Vietnã em um sábado à tarde e isso me fez pensar sobre como estou ficando velho. Há dez anos eu certamente odiaria passar meu sábado desta maneira.

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Peguei então meu celular para anotar esta percepção, como sempre faço com quase todas as percepções que tenho. Não que sejam grande coisa, mas podem virar colunas para o jornal. Aproveitei para anotar algumas questões que preciso resolver no trabalho. Lembrei de alguns e-mails que precisava responder. Acabei na frente do computador. 

Nestes momentos tenho 20 abas abertas no navegador, perdi horas entre o Facebook, o WhatsApp, e-mails profissionais, olha que site legal, preciso participar desse crowdfounding, 20 minutos olhando vídeos no YouTube, olha meu vídeo do TEDx está bombando, compartilha nas redes sociais, lê todos os comentários, responde todos os comentários, ops, mais e-mails profissionais chegaram, quem são esses idiotas que mandam e-mails em pleno sábado? Bem, eu sou.

Estou escrevendo essa coluna agora sobre como a gente não consegue mais fazer apenas uma coisa e, tentando fazer várias ao mesmo tempo, acaba não fazendo nada direito. Tenho e-mails não respondidos, vídeos do YouTube guardados para assistir mais tarde, artigos para ler depois, abas abertas para ver melhor quando tiver mais tempo.

Não terminei de assistir o documentário. Não lembro mais o que ia anotar no celular. Tenho a sensação constante de que deixei as coisas pela metade. Estou frustrado por não conseguir fazer nada até o fim e esperançoso de que lancem algum tipo de tecnologia que nos ajude a focar mais, dispersar menos, talvez um app que treine nosso cérebro para ser mais focado. Parece uma boa ideia. Preciso anotar isso no meu celular.

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