Talvez você tenha ouvido do seu pai ou avô ou conhecido: homem não chora. Homem de verdade é forte e não demonstra vulnerabilidades. Homem não leva desaforo pra casa. Homem não se sensibiliza, não conversa sobre sentimentos. Deve ser por isso que homens fazem menos terapia. Deve ser por isso que homens têm comportamentos autodestrutivos. Deve ser por isso que homens vivem menos que as mulheres, em média. Deve ser por isso que homens são a maioria do sistema penitenciário. Deve ser por isso que homens se suicidam mais.

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As duas coisas são parecidas, essa vontade de voltar ao passado que parece ter voltado à moda e esse retorno da celebração do homem macho, como se bom mesmo fosse aquele homem antigo, forte e calado, matando ursos com as próprias mãos. As duas coisas são frutos da mesma árvore de ressentimentos, a revolta com um novo tempo que não valoriza tanto a força física, talvez o grande diferencial masculino nesse constructo. Somado ao fato de que injeção de hormônios e redes sociais podem causar um certo desequilíbrio psicológico, temos como resultado o Hulk moderno, verde (e amarelo), cheio de raiva, testosterona e confusão mental.

Em um nível muito básico, a visão da masculinidade do passado se refere a um comportamento anti-feminino. Tudo o que lembra culturalmente o feminino (roupas coloridas, chorar, auto-cuidado) é visto como algo não masculino e, portanto, negado, transformado em piada, diminuído, objeto de raiva e nojo. Essa visão divide homens e mulheres em papéis bastante limitados: o homem paga as contas, a mulher cuida da casa e das crianças. Para o homem, o mundo; para a mulher, a casa. Uma prisão para muitas mulheres. Nossas avós, nossas mães, nossas irmãs.

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Essa visão idealizada de passado esquece as violências domésticas (ainda presentes), as traições, as mentiras, as carreiras interrompidas, a fragmentação familiar em essência, para além das aparências. Uma família feliz não se constitui com apenas uma pessoa feliz, e os outros orbitando aquela felicidade. Uma família feliz se conquista com conversa e investigação constante, com comprometimento com a felicidade de todos.

Quando você reconhece que não é perfeito e que precisa de ajuda, isso é ser homem. Quando você usa a força física para ajudar os mais fracos e não para oprimi-los, isso é ser homem. Quando você assume responsabilidade pelo que faz, isso é ser homem. Quando você demonstra carinho pelas pessoas que gosta, isso é ser homem. Quando você respeita mulheres como se fossem pessoas e não coisas, isso é ser homem. Quando você ouve e aprende e muda de opinião, isso é ser homem. Quando você cuida de você mesmo para que viva mais tempo ao lado das pessoas que gosta, isso é ser homem. Seja homem.

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