O primeiro aniversário foi da minha filha mais velha, os míticos quinze anos de idade sendo celebrados na nossa cozinha gelada, sem amigas, sem valsa (não que ela quisesse) e sem a presença vip de algum artistas da Globo, como as meninas faziam na minha época. Tudo o que ela queria é ir, pela primeira vez, em um festival de música como seu presente de quinze anos. Já tínhamos os ingressos quando veio a pandemia, a quarentena, o cancelamento do festival, e aqueles shows tristes dos artistas internacionais em suas casas. Lembro da minha filha assistindo a Billie Eilish na televisão e chorar, por ter seu presente de aniversário roubado pelo vírus. “Todos tivemos”, eu disse a ela.

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No dia 21 de maio minha filha mais nova fez oito anos. Uma vez perguntei-a o que queria ganhar de aniversário e ela disse: “Qualquer coisa, Papai. Eu gosto de tudo”. Foi, portanto, muito fácil deixá-la feliz no dia do seu aniversário em quarentena: bastou passar o dia ao seu lado. Fizemos um café da manhã especial e, ainda pela manhã, começamos a preparar o almoço da família. “Almôntegas (sic)”, ela escolheu. E fizemos o arroz, almôndegas, salada, e depois o bolo de chocolate com confete colorido de chocolate. De tarde, na aula online, os colegas fizeram uma surpresa e cantaram Parabéns à Você, um momento singelo e fofinho mas, ao mesmo tempo, de partir o coração. Antes de dormir assistimos A Creche do Papai, com o Ed Murphy.

O aniversário da minha mãe e o Dia das Mães foram solitários, por isso pedi como meu presente de aniversário de 40 anos encontrá-la. Foi um domingo nublado e triste, a praia estava ventosa, minha irmã trouxe um bolo de chocolate, mas não soprei as velas pra não jogar perdigotos no bolo, vai saber. Pude estar com a minha mãe mas mantivemos uma distância carente e doída. Nada de abraços longos, como eu tanto desejava. Ganhei uma blusa de lã.

O aniversário da minha mãe e o Dia das Mães foram solitários, por isso pedi como meu presente de aniversário de 40 anos encontrá-la.

O último aniversário, da minha esposa, aconteceu na semana passada. Fazia sol e calor, fomos ao parque de máscaras e convidamos dois casais de amigos. Um dia agradável, as crianças brincaram à distância com um balão, os adultos tomaram vinho branco, sentados em cangas espaçadas na grama. Esta é uma época que a alegria soa fingida, as festas não são realmente festas, são momentos constrangidos, a vida encabuladamente nos dizendo “é o que tem”.

Quando comemoramos o primeiro aniversário do ano, da minha mais velha, em março, comentávamos que no Natal tudo já estaria resolvido. “No Natal de 2021!”, eu brinquei, para desespero delas, uma profecia que está cada vez mais próxima de se cumprir. Como será nosso Natal este ano? Melancólico, como todos os natais, porém mais; pela distância, pelas notícias, pela economia, pelo fogo que consome as florestas, pelos desejos não atendidos quando não sopramos nossas velas de aniversário.

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