Segundo domingo de maio é seu dia, mãe, apesar de tudo isso que a gente está vivendo e dessa impressão de que todos os dias são iguais, não sei quando é terça e quando é sábado e talvez nem devesse ter feriado, mas Dia das Mães tem que ter. Que eu sei que não fui um adolescente muito agradecido, com meu jeito relaxado e minha postura de quem sabia tudo aos dezessete anos, que eu sei que te deixei preocupada tantas vezes e eu sei que eu deveria ligar pra você mais vezes, mas sabe como é, os dias são todos iguais, não sei quando é terça e quando é sábado e quando eu vejo a semana passou. 

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Por aqui tudo igual: passamos de dois meses dentro de casa, estamos todos completamente exaustos uns dos outros, acordamos felizes, de tarde nos estressamos e de noite fazemos as pazes. A mais velha decorou a cortina com tinta, a mais nova anda de skate no corredor (desculpem-nos, vizinhos!). A gente vai se lembrar dessa época como um período de medo e insegurança, mas talvez as crianças se lembrem como o tempo em que a mamãe e o papai estavam sempre em casa, fazendo brincadeira e exercício. Temos uma vontade louca de sair de casa, mas não pode, né? Tanta gente morrendo, tanta gente ficando doente, tanto médico desesperado, precisamos ajudar do nosso jeito. 

A gente vai se lembrar dessa época como um período de medo e insegurança, mas talvez as crianças se lembrem como o tempo em que a mamãe e o papai estavam sempre em casa, fazendo brincadeira e exercício.

 Meu coração aperta quando eu leio as notícias, mãe. Tem gente desrespeitando enfermeiros, gente que faz festa com amigos no meio dessa tragédia toda, gente que diz que é só uma gripezinha. Morre um avião de pessoas por dia e dizem que não é nada, bola pra frente. Imagina se caísse um avião por dia e a manchete fosse: “Não foi nada, bola pra frente, Brasil”. Seria um pouco insensível, não? Acho que estamos virando um país insensível.

 Por você e por todas as mães do mundo é que ficamos em casa. Pra que estejam mais seguras quando forem ao mercado ou na farmácia. Pra que tenham mais chance quando passearem com o cachorro ou receberem comida em casa. Pelas mães que são obrigadas a trabalhar no meio desse caos. As mães que estão em ônibus lotados ou em filas para conseguir um auxílio financeiro. As mães que estão sem creche, nem escolas pra deixar os filhos. As mães que estão no hospital, cuidando ou sendo cuidadas. Por todas as mães, fazemos a nossa parte. Foi você que me ensinou esse tipo de coisa, mãe. Prometo te ligar essa semana.

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