Passei o último dia sete de setembro, um dia tão tenso nos noticiários, em silêncio. Fiquei quieto, me perguntando: o que é ser um patriota? O que é uma pátria? O que é amar uma nação? O que querem dizer as bandeiras do Brasil penduradas nas janelas dos apartamentos? É um sinal de que os moradores daqueles apartamentos amam a beleza natural brasileira? Apreciam Bossa Nova, samba e chorinho? Querem a preservação da Amazônia?
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Defendem o vasto conhecimento natural indígena? As bandeiras do Brasil significam respeito pelo sincretismo religioso? O catolicismo, o espiritismo e o candomblé? Ou representam apenas o Brasil violento, que não respeita a pluralidade dos compatriotas?
Nos anos 60, o fascínio internacional pelo Brasil trouxe diversos acadêmicos a estudar nossa cultura, nossa fauna e flora e nossa história. Eram chamados de “brasilianistas”. Estudavam apaixonadamente os povos originários, a música e o mata nativa. Esse é meu tipo de patriotismo. O interesse apaixonado pelo lugar em que nasci. Nunca gostei do patriotismo belicoso, aquele que considera qualquer ser além fronteira um estranho. Não vejo lógica em celebrar um risco feito no chão. Amo a cultura gaúcha, compartilhada pelos uruguaios e argentinos. Amo a Amazônia, que dividimos com Colômbia e Peru. Patriota, pra mim, é quem quer o melhor para essa nossa divisão política, mas também para nossos vizinhos.
Meu amigo Fábio escreveu nas redes sociais: “um patriota de verdade cuida das pessoas à sua volta. Sendo assim, durante uma pandemia, ele usa máscara porque quer proteger seus vizinhos. No trânsito, essa pessoa reconhece que compartilha a estrada com seus colegas de nação. Portanto, é obvio que furar um sinal vermelho, ou não ligar o pisca-alerta, é ignorar completamente que existem outros ali”, ele escreveu. E continua: um patriota respeita os outros, ensina seu filho a respeitar as regras, não sonega impostos, tem orgulho da diversidade do país.
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> Por que 7 de setembro é feriado?
Depois do dia sete de setembro, dia de comemorar o grito da independência, temos o dia oito de setembro, um dia bem menos famoso por aqui: é o Dia Mundial da Alfabetização. No Brasil, temos 16 milhões de pessoas que não sabem nem ler e nem escrever, e 30 milhões de analfabetos funcionais, segundo dados oficiais do Inep, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas. São trinta milhões de pessoas que conseguem ler, mas não conseguem entender o que estão lendo. Que conseguiriam ler um livro de história, mas não conseguiria entender a história sangrenta de conflitos no nosso território e porque esses conflitos aconteceram. Talvez, entre eles, estejam algumas pessoas dessas que penduram a bandeira nacional.
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