Quando nossa filha mais velha tinha por volta de sete anos de idade, lembro que um dia chegou em casa da escola com a cara fechada. Alguma coisa desagradável tinha acontecido. “Mãe, pai, me desculpem mas estou muito brava hoje! Vou até falar um palavrão… (respirou fundo, eu e minha esposa arregalamos os olhos, e então ela gritou)… DROGA!”. Caímos na risada. E explicamos, aos poucos, quais palavras eram permitidas e quais eram agressivas demais.

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Pois bem, minha filha mais nova, agora com nove anos, e já era hora, anda perguntando sobre palavrões. “Porcaria é palavrão?”, ela pergunta. “Não, palavrão são palavras muito feias, que se faladas em público as pessoas ficam ofendidas”. Ela, então, pergunta: “Tipo… (e cautelosamente disse) cocô?”. Respondemos: “Cocô é feio. Mas palavrão mesmo é quando alguém diz ‘merda’”. E ela caiu na gargalhada. “Vocês falaram, hahahahahaha”.

Achou a coisa mais engraçada do mundo poder falar palavrão. “Só aqui em casa”, alertamos. “Posso mesmo?”, ela perguntou. “Merda… hahaha”, e colocou as duas mãos na boca, como se estivesse cometendo o maior pecado da curta vida. Expliquei que o palavrão mais feio de todos tinha apenas duas letras, a letra c e a letra u. “Significa o buraco de onde sai o cocô”, expliquei. Ela quase caiu de tanto rir.

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Então, passei a ensinar canções com a nova palavra: “Cuuuuuelhinho, se eu fosse como tu, tirava a mão do freio e botava a mão no cuuuuuuuelhinho”. Aurora se deita no chão de tanto gargalhar. “Marilu, Marilu, botava ovo pelo…”, e ela gargalha alto. “O jornal tá caro, caro pra chuchu, então como é que eu faço pra limpar meu…”, e Aurora grita HAHAHAHAHAHAHAHAHA. A cada final de música a Aurora quase desmaia de tanto rir. Ri como se fosse uma descoberta monumental, algo completamente fascinante para uma menina de nove anos.

“Mas não pode falar em público, né pai?”, ela pergunta. “Tem que ter cuidado. Não pode falar na frente dos outros. Só entre a gente e com todo respeito”. Passamos mais algum tempo rindo juntos da bobagem que é existirem palavras proibidas. “Não pode nem escrever essas palavras, né pai?”, Aurora perguntou. E eu disse: “Claro que não, filha. Vai que alguém lê e fica ofendido”.

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