A coisa que Adão mais sentia falta do paraíso era a mão de Deus repousando sobre ele, enquanto dormia. Lamentava mais do que tudo não ter mais a divina coberta, a sensação de proteção plena, a companhia sublime de uma força reconfortante. Fora do Éden o clima se comportava mal: fazia muito frio, o vento era forte, havia dias em que gelo caia do céu e o corpo nu de Adão e Eva sofriam terrivelmente.
Continua depois da publicidade
Receba as principais notícias de Santa Catarina pelo WhatsApp
Alguns anos depois, Eva gritou desesperada as proféticas dores de parto. Mais uma vez, Adão se sentia perdido. Corria de um lado para o outro, oferecia água, pão, uma pedra para Eva apoiar melhor a cabeça. A mulher apenas gritava perto da fogueira. Quando pegou Caim no colo pela primeira vez, Adão começou a rir e a chorar ao mesmo tempo. Cuidou da criança na primeira noite, e nas noites depois desta. Cantava para o bebê, brincava com ele pela manhã. Por dias, dormia ao lado do filho, olhando-o fascinado. Caminhava feliz, voltava da caça contente. Adão era um homem profundamente agradecido pela chegada do filho.
Florianópolis tem média de 170 casos de diarreia por dia em pleno verão
Vieram, depois disso, Abel, Sete, Azura, Avan, Balbira, Kalmana, e se somarmos todos os filhos homens foram mais de 30, é mais de 20 filhas mulheres. Adão era rodeado de amor e carinho – e, claro, de intrigas entre irmãos, como em toda família, especialmente entre os primogênitos, mas isso não vem ao caso. Adão viveu 800 anos, e viu nascer seus netos, bisnetas, tataranetos, e assim por diante. Algum novo bebê estava sempre chegando e todos os bebês Adão pegou no colo e cuidou a primeira noite, carregou no colo e brincou. Adão amava cuidar de crianças.
Continua depois da publicidade
Leia outras colunas de Marcos Piangers
E no almoço de domingo de 813 anos, sentado na cabeceira da enorme mesa de madeira e rodeado pela família, Adão sentiu uma forte dor no peito, e sentiu seu corpo fraquejar. A dor rasgava por dentro, a respiração falhava, os olhos de Adão olhavam assustados enquanto todos tentavam ajudá-lo. E enquanto sua cabeça caía para frente, seu rosto contraído pela dor lancinante, sentiu as mãos de seus filhos, e netos, e de suas tataranetas, encostando-lhe as costas, a nuca, os braços e as pernas, seus amores todos a tentar acudi-lo, mãos grandes e pequenas segurando seus cabelos e suas orelhas. Sentiu, como sentia no Éden, mãos de todos os tamanhos, protegendo-o. E era como se estivesse no paraíso.
Leia também:
Empresários perdem milhões e ameaçam supostos golpistas usando militares em SC
Prefeitos de Lages e Capivari de Baixo são presos em operação contra fraude em licitações