Era a apresentação escolar de Dia das Mães, uma daquelas apresentações escolares cheias de pompa que os professores organizam, com meses de ensaios e fantasias onerosas, e eu me lembro de ser um leão ou um tigre. Lembro que, na época, fiquei feliz de ser um leão (ou um tigre) porque era um personagem divertido e central para a narrativa (corria atrás de todo o elenco como se fosse comê-los). Me lembro, principalmente, da ansiedade e emoção de estar prestes a entrar no palco. Não lembro de absolutamente nada da apresentação, se desempenhamos bem nossos papéis, se alguém caiu e se machucou ou se ganhamos algum prêmio.
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Lembro que minha mãe não conseguiu chegar a tempo. Alguns minutos depois da última família sair do teatro, carregando o filho vestido de caçador ou de árvore, chegou minha mãe correndo, atrapalhada, claramente atordoada por ter perdido a apresentação e ser a última mãe a chegar para pegar o filho. Corri para abraçá-la e me lembro bem: não senti nenhuma raiva ou lamento, e se comentei com minha mãe sobre o atraso foi sem maldade. Eu estava apenas feliz por ela ter chegado. Não lembro da minha mãe ausente.
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Minha mãe não tinha muito tempo livre, tinha que trabalhar muito para pagar as contas, mas o tempo que tinha comigo parecia sempre suficiente. Ela me levava para o trabalho dela e me lembro de brincar por horas com grampeadores (que viravam trenzinhos) e caixas de clipes, lembro de explorar todos os corredores da empresa onde ela trabalhava e lembro de dormir dentro do carro algumas vezes, quando ela precisava trabalhar até tarde. Mas não lembro da minha mãe ausente.
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Algo que nós pais esquecemos: o filho perdoa. Não importa se trabalhamos por horas e se temos que viajar no final de semana; não importa se perdemos uma apresentação escolar ou se não conseguimos comprar a cartolina ideal para o trabalho de ciências. O filho perdoa. O filho se lembra da gente como o melhor que conseguimos ser. Não como pais ausentes ou relapsos, mas como pais que deram o que conseguiam dar naquele momento.
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Nós, pais cheios de culpa por nunca termos tempo pra nada, seremos lembrados como dedicados e afetuosos. Pais que se esforçaram ao máximo. Que no pouco tempo que tinham livre, estavam realmente presentes. Fomos o que podíamos ser. E quando não alcançamos a perfeição, teremos perdão. Filhos são muito generosos. Filhos se lembram da gente como heróis. O filho perdoa.
Confira uma série de vídeos com imagens para inspirar:
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