2022 era pra ser o ano da saúde, eu fazia planos de continuar a correr, fazer academia, quem sabe competir na minha primeira maratona. Então, veio a primeira semana do ano e peguei Covid, que ocasionou uma inflamação cardíaca e tive que parar de correr, não levantar peso e maratona nem pensar.
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Em seguida, descobrimos que o câncer da minha mãe voltava avassalador, os exames mostravam a doença espalhada e crescendo, lembro de passar o primeiro semestre chorando e vendo minha heroína, minha rocha, minha referência, ficando magra e pequena, cheia de dores e desmaios e remédios. A morte batia na nossa porta, conversei com amigos que perderam os pais em situação semelhante. Choramos juntos. Aprendi que existe na vida um momento de cuidar dos pais e fazer isso com toda dedicação evita arrependimentos. Cuidar da minha mãe me acalmava. Era como se ali fosse o meu lugar.
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Em julho, descobrimos um tratamento experimental para o qual minha mãe poderia ser candidata. Rapidamente, conseguimos a aprovação. Passei a levá-la todos os meses para a imunoterapia, uma viagem que nos uniu e me possibilitou conversar com minha mãe de um jeito novo. Ouvi histórias inéditas de sua juventude, falamos sobre o medo da morte e a possibilidade de continuarmos vivos, de alguma forma, depois que o corpo acaba.
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Em dezembro, descobrimos que o tratamento está funcionando. Todos os nódulos no corpo de minha mãe estão diminuindo, alguns desapareceram. O cabelo dela voltou a crescer. Ela não sente mais tantas dores. Está tomando menos remédios. Achávamos que ela não veria 2023, mas verá. Talvez veja ainda muito mais. De forma completamente inesperada, 2022 foi mesmo, quem diria, o ano da saúde.
O ano nunca é o que esperamos. Os planos serão desfigurados, as promessas serão alteradas, a surpresa nos ensinará mais do que nossos projetos. O ano novo é um professor, por vezes severo, que não pede nada além de disposição e coragem. Nosso eu do dia 1º é um inocente. Nosso eu do último dia do ano é um sábio. Que um dia depois, será novamente ingênuo, achando que pode controlar a vida.
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Aprendi, esse ano, a parar de fazer planos. A deixar o tempo correr. A tentar sempre fazer a coisa certa com os imprevistos que nos acontecem. A esperar o ano novo como uma criança espera o Papai Noel. Aguardando ansioso as surpresas que trará.
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