“Eles crescem rápido”, é o que todo pai recente vai ouvir. E, como os pais recentes fazem, acharão que é blábláblá. “Tudo bem, meu amigo. Eu sei que crescem rápido, mas preciso comprar fraldas, dar banho, papinha, colocar pra dormir, levar na creche!”, dirão os pais novos. A maior parte dos primeiros meses é mesmo trabalho, noites em claro, custos e esforço. Mas eles crescem rápido e não percebemos.
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Foi no verão de 2016 que elas ficaram duas semanas na praia sem mim – eu tinha que bater ponto no escritório. Da praia, elas me mandavam fotos lindas de arco-íris e pôr do sol. E eu chorava, abraçava os travesseiros dormindo sozinho, chorava de saudade até pegar no sono. Pensei: “preciso mudar minha vida”. Consegui mudar de cidade, de emprego, de rotina. Sofri com medo de não ter dinheiro para pagar as contas, alugamos um apartamento simples.
Neste verão, conseguimos passar dois meses juntos na praia, vendo arco-íris e pôr do sol. Pitangas, desenhos na areia, castelos. Somos realeza de chinelo. Protegidos bravamente pelo fator 50. Bicicletas, nossa cavalaria. Joelhos ralados. “Mais um machucado pra coleção, pai”. Mais um beijo pra curar. Mais uma conversa à beira-mar. Mais uma noite dormindo amontoados em colchões improvisados no chão. Mãos dadas. Enquanto durar.
A maior armadilha da vida é quando um pai finalmente pensa em curtir o filho, e o filho que não quer mais curtir o pai.
Cada fase da vida de um filho é conduzida com tensão e esforço dos pais, cabelos em pé para cada uma das fases, até que eles crescem. E quando crescem, nos lamentamos. “Devia ter aproveitado mais”, pensamos. Nossos filhos, aos poucos, vão nos dizendo adeus. Aprendem a andar, a comer sozinhos, dormir sozinhos, ir para a escola sozinhos, mais ou menos na velocidade desta frase. A maior armadilha da vida é quando um pai finalmente pensa em curtir o filho, e o filho que não quer mais curtir o pai.
Se for possível, aproveite. Não perca esta chance. Se não for possível, é a vida. Todo pai dá o seu melhor. Todo pai tentou ser o melhor pai do mundo. Quando nossos filhos crescem, certamente nos arrependeremos de não ter aproveitado mais. Porém, a vida é longa. E os netos nos dão segundas chances.
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