Alguém já disse que o que fazemos fala tão alto que fica impossível ouvir o que dizemos. Isto é, nosso exemplo é mais importante do que os nossos conselhos. Pois bem, nós, que somos os adultos deste jardim, estamos ensinando nossas crianças através das nossas ações, nossas conversas e nossas escolhas.

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Temos ensinado os nossos filhos a terem raiva de quem pensa diferente de nós, quando falamos sobre política como se fosse uma disputa futebolística. A ira que sentimos pelo time adversário nos esportes é, realmente, algo sem grandes consequências além de uma brincadeira na manhã seguinte da vitória. Eventualmente, é claro, aquilo pode descambar em violência, como já vimos tantas vezes em estádios ao redor do mundo. Cabe aos adultos exercitarem a mansidão e ensinarem os mais novos, através deste exercício prático, que nenhuma diferença deveria ser motivo de ódio violento. As grandes disputas esportivas proporcionaram-nos os espetáculos mais deliciosos. Na política, porém, as grandes disputas nos levaram à morte.

A política é a arte do diálogo e do entendimento. Por isso, dizemos que alguém que tenta agradar à todos é “político”. Alguém que foge das polêmicas, alguém que tenta costurar acordos de forma a chegar a um denominador comum. Nos últimos tempos, criamos uma aversão ao “político”. Ser político virou uma coisa feia. Respeito pelos outros virou sinal de fraqueza. Ser politicamente correto, então, virou xingamento.

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Com quem amamos, em nossos lares, somos políticos todos os dias. Tentamos fazer com que nossas crianças se entendam. Abrimos mão dos nossos desejos para agradar nossa esposa. Somos politicamente corretos quando nossa sogra pergunta se ficou bonita com o novo corte de cabelo. Respeitamos o horário de silêncio, depois das dez da noite, a chamada “política” da boa vizinhança. A alternativa a isso é a incivilidade. Todos se desrespeitando mutualmente. O caos.

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O antídoto para a polarização é a busca por algo positivo no ponto de vista de quem discordamos. O paralelo esportivo seria reconhecer que o outro time tem qualidades. Um mundo mais civilizado é um mundo que respeita o diferente. E para respeitar, busca entendê-lo.

É isso que ensinamos aos nossos filhos no jardim de infância. Dizemos que devem respeitar os amigos, dividir o lanche, ajudar os mais fracos, obedecer as regras de convivência pacífica. Tudo o que precisamos para toda a nossa vida aprendemos no jardim de infância. É isso que ensinamos, mas não é o que fazemos. E o que fazemos, todos os dias, fala alto demais.

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