Li que uma inteligência artificial terminou a décima sinfonia de Beethoven. O homem deixou alguns rabiscos antes de morrer e a máquina pegou os rabiscos, ouviu as outras nove sinfonias, e compôs a décima como se fosse o próprio Beethoven. Vá lá, os críticos disseram que parece mesmo uma música dele, que a inteligência artificial é mesmo muito boa, mas tenho dois problemas aí: se um especialista em Beethoven fizesse a mesma coisa iam dar toda essa moral? E dois: qual a graça de uma música composta por um robô?

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Porque eu sei que as máquinas vão ficar cada vez melhores, e nós humanos evoluímos em um ritmo bem mais lento. Inevitável, portanto, as máquinas nos substituírem, como já fazem tão bem nas fábricas da Tesla, nos armazéns da Amazon, nos jogos de xadrez e mais recentemente na escrita e no design gráfico. Algumas inteligências artificiais são melhores que médicos no diagnóstico de câncer! Eu sei, por mais que eu faça minha defesa apaixonada da humanidade, é inevitável que a máquina nos ultrapasse em todas as áreas.

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Pois que aconteça daqui a dois ou cem anos que um robô consiga pegar tudo o que eu vivi, todas as minhas mensagens de celular e todas as ligações que já fiz com pessoas que eu amo, e consiga compor uma música perfeita, criada apenas para mim, que me emocionei profundamente e me faça lembrar dos momentos mais felizes e mais tristes da minha existência. E, por alguns segundos, aquela música me faça chorar e se torne minha música favorita.

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Mas ao perguntar quem a compôs e ouvir que foi um robô, o encanto se desfaz, pois sei que fui manipulado. Sei que a máquina apenas tenta me emocionar, e fazendo isso, tira a profundidade do meu sentimento. Pois, para emocionar um humano verdadeiramente, precisaremos de outro humano. Um outro humano que tenha chorado, sorriso, amado, que tenha composto músicas e depois ficado quase surdo, se desiludido amorosamente, perdido alguém que ama, e que no final da vida tenha composto uma obra prima com o pouco de audição que lhe sobrou.

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Inexplicavelmente, a emoção humana passa de humano para humano, como o bocejo. Já a máquina é apenas ferramenta, e como toda ferramenta, já nasce morta. Ai do mundo dominado pelas máquinas.

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