Como pai, sei o quanto sou desatento, grosseiro, exigente, inconveniente, ausente. Sei das vezes que não presto atenção, pois estou no celular. Das vezes que não contive meus próprios traumas e mágoas de infância, passei adiante. Sei das vezes que explodi em raiva desmedida, incompreensível a mim mesmo, a uma criança. Sei das vezes que quis que a minha filha fosse diferente, e ela sentiu esse meu desamor. E, que bom, essa não foi uma concessão que ela estava disposta a fazer. Decidiu ser ela mesma, eu que aprendesse a amá-la de verdade.
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Quando me perguntam que pai quero ser, me vem na cabeça a imagem daqueles que considero os melhores pais, todos eles em comum possuem uma mansidão que admiro. Eles são atentos aos filhos de uma forma tranquila. Eles parecem não desejar que os filhos sejam algo, apenas aproveitam o que eles já são. É como se tivessem uma paz com o presente, o agora e o presente literal que é passar um tempo com seres pequenos, fofos, brincalhões, bagunceiros, barulhentos, sorridentes, deslumbrados, criativos. Esses meus amigos degustam o tempo com os filhos, sem desejo de outra coisa. Sem pressão para que cresçam logo, para que aprendam logo, para que consigam algo, um troféu, uma medalha, um emprego, logo, para que sejam “alguém na vida”.
A surpresa mais bonita é que, quando deixamos nossos filhos ser quem são, eles experimentam habilidades, variam interesses, acabam se tornando pessoas muito mais interessantes e livres do que seriam se ficássemos interferindo na vida deles, como tantos de nós, eu inclusive, fazemos desesperadamente.
Nossos filhos não são vasos, que podemos moldar. Nossos filhos são plantas, muitas vezes de espécies que não sabemos a melhor forma de cuidar. Plantas que crescem de forma inesperada e maravilhosa. Qual a melhor terra? Quanta água colocar? Quanto sol? Devo podá-la?
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Nosso papel é conhecer. Depois de conhecer bem, aceitar. E não apenas aceitar, mas celebrar. Comemorar. Agradecer. Não era você que eu esperava. Mas que bom que você veio assim.