Acho muito bonito quando um homem decide ser pai de um filho que não é biologicamente seu. Vejo cada vez mais esse tipo de homem: sensível, honesto e esforçado, um daqueles que dá orgulho ao gênero.

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Meu padrasto era um carioca tranquilo que, quando estava fora de casa, tratava todo mundo muito bem. Era admirado pelos amigos. Lembro de uma vez no shopping encontrar um amigo dele que me disse: “Que sorte você ter um padrasto como ele”. Naquele dia, fiquei muito confuso.

Dentro de casa, ele era grosseiro e agressivo. Nunca sorria. Sempre passava a mensagem de que estar perto das crianças era um saco. Me lembro de vê-lo soprar na barriga da minha irmã, filha dele, para estimular risadinhas deliciosas. Mas ela ia crescendo e nunca mais os vi trocarem carinhos. Nunca jogou bola conosco. Nunca andou de bicicleta. Nunca viu um filme em família.

Não tratava bem minha mãe. Me perguntei, muitas vezes, porque eles permaneciam juntos. Muitos foram as histórias de traições. Minha mãe engolia o orgulho para ter uma família. Minha mãe pagava todas as contas, sustentou a casa quando ele ficou desempregado. Fingia que as traições não existiam, lidava com a falta de participação dele com a casa e com as crianças. Aguentava calada quando ele era violento.

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Meu padrasto era a imagem do machão. Aquele macho que machuca a todos ao redor. Aquele que magoa filhas e esposas. Foi ele que me registrou em um cartório, preenchendo aquele espaço em branco da minha certidão de nascimento. Mas trazendo algum desconforto. 

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Vejo o nome dele no meu RG e lembro como nós, homens, podemos ser maus maridos e maus pais. Então, lembro como podemos ser bons.

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