Aperto o botão do elevador. Abre-se a porta. O homem me vê, pede foto. Vamos ao café da manhã do hotel, sentamos em mesas separadas. Em alguns minutos, ele vai até minha mesa. Está com os olhos cheios de água e o rosto vermelho. “Tenho dois filhos que não falam comigo. Tudo o que errei no meu primeiro casamento, estou tentando acertar no segundo”.
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Outro dia, em São Paulo, fim da palestra. Saio correndo, tenho voo. Um pai me segura antes de entrar no táxi. Os olhos em lágrimas. “Sou apaixonado pelos meus filhos, mas a mãe não permite que eu os veja”. Dei um abraço. Lamento ter pressa. Penso muito nele.
Eu e minha filha tomando suco em uma padaria, um senhor se aproxima. “Preciso te agradecer”, ele diz. Os olhos começam a se encher. “Aconteceu uma coisa na minha vida, um momento, em que tu me ajudou muito”. Hesita. “Um coisa… Você me ajudou muito, muito mesmo”. E se despede
emocionado.
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O homem nasce bom e doce. Brutalizamos-o. Ele não aprende a linguagem do afeto, da delicadeza, o idioma para expressar os sentimentos. Aquilo o dá a sensação de fortaleza. A fortaleza, então, se torna solitária e o homem, em momentos de sofrimento, não tem a quem recorrer.
Alguns, é claro, aprendem os linguajares da sensibilidade. Tiveram pais que os incentivavam a falar sobre sentimentos? Fizeram terapia? Encontraram um grande amor que os ensinou as elocuções da alma? Um homem que aprende a linguagem dos afetos é um homem livre.
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Os encontros que descrevi acima são conversas inacabadas. Nos falta tempo, dialeto, espaço. É como se todo homem falasse apenas seu próprio idioma no mundo, e de mais nenhuma outra pessoa. Ninguém o entende. Há vezes que ele só consegue chorar.
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