Foi quando minha filha tinha 10 anos, a escola em que ela estudava chamou os pais para falarem sobre suas profissões. Na época, eu era repórter do Encontro com Fátima Bernardes na Globo, e lembro de imaginar o sucesso que isso faria entre as crianças. Imaginei os outros pais falando de suas profissões chatas, um seria advogado, outro engenheiro, e então chegaria eu, uma quase celebridade, uma pessoa que aparece na televisão para todo o Brasil. Fiquei imaginando as crianças naquele auditório gritando meu nome, aplaudindo meu sucesso na Globo, pedindo autógrafos. Finalmente eu, um estudante sem graça no tempo de escola, seria ovacionado no auditório de um colégio, anos mais tarde. Ah, como o mundo dá voltas, pensei dirigindo para o local.

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Os pais que falaram antes de mim eram todos muito simpáticos e carismáticos. Lembro de um dentista, que apesar da profissão não ser nada de mais, fez as crianças rirem imitando os pacientes que tentam falar com a boca escancarada. “Fez sucesso, este dentista”, me lembro de pensar naquele dia, “mas as crianças vão pirar quando souberem que eu trabalho na televisão”. Pois, lá fui eu ao microfone e, quando disse que era repórter de um grande canal de televisão, o que recebi foi silêncio.

Eu repeti: “TELEVISÃO NACIONAL!”.

Nada.

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“FÁTIMA BERNARDES!”. Silêncio no auditório.

Então, perguntei incrédulo: “Vocês não conhecem a Fátima Bernardes?!”. E uma criança levantou a mão e disse: “Você conhece a Kéfera?”.

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Kéfera, vim a saber depois, era uma youtuber muito popular entre os jovens. As crianças, depois desta primeira pergunta, passaram todas a falar ao mesmo tempo, cada uma citando seu YouTuber favorito ou apontando qualidades e defeitos das estrelas das redes sociais. A professora teve que intervir pedindo respeito. “Silêncio!”, ela gritou, e tive medo neste momento que ela pedisse para chamar novamente o dentista ao palco, que estava muito melhor. Mas não, me permitiram continuar, e fui respondendo que tinha poucos inscritos e não investia tanto no Youtube e que televisão era muito melhor, eles deveriam dar uma chance para esta grande mídia.

Lembro de começar a planejar minha produção de conteúdo no Youtube naquele dia, remoendo aquela humilhação toda. Tudo isso só pra dizer que este mês recebi o prêmio Influenciadores Digitais como maior influenciador do Brasil na categoria família, e esta semana saiu que estou no TOP 3 de melhor influenciador na categoria comportamento no prêmio nacional iBest, ao lado de grandes nomes como Giovanna Ewbank e Jout Jout. Pois nem, espero que agora, finalmente, aquelas crianças me respeitem. Ah, como o mundo dá voltas.

“Finalmente eu, um estudante sem graça no tempo de escola, seria ovacionado no auditório de um colégio, anos mais tarde”

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