Não houve época mais solitária e deslocada da minha vida do que quando entrei no ensino médio. Dos 15 aos 18 anos nada está certo no nosso corpo, na nossa casa, na nossa vida. Eu tinha a impressão que alguns colegas tinham uma vida boa, feliz, cheia de amigos. Eu não. Estava completamente deslocado e chorava todos os dias.

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Era um choro que eu não sabia de onde vinha, simplesmente começava a sair do meu olho. Às vezes eu não estava especificamente triste com algo, o choro saía da mesma forma, imparável. Às vezes em lugares públicos, me envergonhando. Não existe nada mais contra-producente para um adolescente que está precisando de amigos do que chorar em público?

Foram alguns meses assim, talvez mais de um ano. Sei que escondi minha tristeza, como escondem os adolescentes, de toda a família e procurar alguma ajuda profissional não era possibilidade, já que não tínhamos dinheiro e eu não sabia que o SUS tem esse serviço de ajudar quem precisa de auxílio emocional. Agora que sei, talvez fosse a um posto de saúde.

Pensando bem, hoje com 40 anos iria, sei como lidar com as coisas, mas aos 15 anos acho que não conseguiria. Não lembro bem, mas acho que com 15 anos não era capaz de dizer: “Olá, tudo bem?”. Não me admira que andasse solitário. 

Não sei bem como saí da fossa, se foi conhecendo alguns outros adolescentes deslocados que me deram um senso de pertencimento, se foi uma menina por quem me apaixonei, se foram os livros que me acompanharam até finalmente conseguir entrar na faculdade e ter virada minha maré emocional. Sei que em algum momento parei de chorar. Passei por muitos momentos difíceis depois, mas nenhum foi como aquele.

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Era duro e não sei se era só tristeza ou depressão, mas era algo de verdade. Não era vitimismo ou mimimi. Eu não estava tentando chamar atenção de ninguém. Era só uma coisa que de vez em quando acontece com a gente. Acontece com quase todo mundo.

E quando acontece com alguém hoje em dia, sinto como se eu estivesse junto. Sinto como se estivéssemos ligados, de alguma forma. Somos amigos, torcendo para que as lágrimas do outro parem um dia de jorrar. Não estamos sozinhos.

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