Se você pegar um trem ou bicicleta que vá do Sol até Netuno, passando por Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno e Urano, terá uma viagem de pouco menos de 4,5 bilhões de quilômetros com muito muito muito tempo e muito muito muito nada para ver. A imensa maioria desta viagem será “olhando à direita temos nada, vazio e imensidão, olhando à esquerda vemos algumas estrelas ao longe, e daqui até lá é nada, vazio, imensidão e morte”. Eventualmente, os passageiros teriam um planeta inabitável para apreciar – um planeta cheio de gases mortais, ou um completamente desértico – além de um cinturão aqui, um cometa acolá, mas coisa pouca, muito pouca. Alguns passageiros pediriam o dinheiro de volta porque a viagem, na maior parte do tempo, foi apenas nada, vazio e tédio.
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Suponha que, para compensar a insatisfação desta primeira viagem, o senhor que vende os ingressos propusesse uma outra viagem de brinde: para o passado. Os passageiros, até então indignados por terem perdido quase 0,001 ano luz na primeira viagem, ficariam empolgados com esta segunda proposta. Pois bem, entrando na máquina do tempo e determinando a volta para 445 milhões de anos, os passageiros dariam de cara com uma extinção em massa, oceanos congelados e pouca vida fora da água. Há 360 milhões de anos, quase a vida acabou novamente, com o esgotamento de oxigênio nos mares. Há 252 milhões de anos 95% da vida do planeta foi extinta. Há 200 milhões de anos, mais 80% de extinção. Há 75 milhões de anos, um meteoro acabou com 75% da vida.
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Os viajantes já estariam indignados novamente. O passeio pelo passado foi uma grande roubada: a esmagadora maioria do passado é de morte, extinção, vazio. Quando não eram meteoros destruindo tudo, eram incêndios espalhando fumaça e destruição. E quando a humanidade começou a se organizar, vulcões ameaçaram toda a vida terrestre novamente. E depois fome. E depois pestes. E depois guerras. Os passageiros do passeio sairiam ainda mais indignados: as crianças chorando assustadas, as mulheres com ânsia de vômito por terem visto tanta desgraça, os homens querendo briga com o senhor que vendeu os ingressos. Cena feia.
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Então, o senhorzinho que vende os ingressos acalmaria os ânimos: “Naturalmente, alguns de vocês se sentiram desconfortáveis ao perceber que, seja olhando bilhões de quilômetros para fora da Terra ou milhões de anos para o passado do universo, vê-se o mesmo: morte e vazio. A vida é algo frágil e extremamente raro. Vivemos nossos dias como se fossem durar para sempre, como se sempre existissem abraços, risadas e crianças correndo na grama. Abraços, risadas e crianças correndo na grama são raríssimos no Universo e na História. São frágeis e podem deixar de existir a qualquer momento. Olhem uns para os outros e agradeçam. Vocês têm muita sorte”.
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