Aurora tem nove anos agora. Estamos curtindo juntos nossos últimos anos de infância. Inspirada em um filme, pediu para que o dia 12 de outubro fosse o “dia do sim”. Tudo o que ela nos pedisse, teríamos que dizer sim.
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Na segunda-feira, chegou do supermercado com a mãe e seu presente fantástico: uma bola pula-pula. No feriado, brincamos de manhã no apartamento e de tarde com as crianças ao ar livre. A bolinha pula-pula foi o centro da diversão por horas. Custou R$ 1. Aurora também quis uma bala “quebra-queixo”, uma bola grande que é saboreada pela criança aos poucos e dura meses na geladeira. Presente caro: R$ 4,50. Terceiro pedido: que eu e ela brincássemos a noite de um jogo que inventamos, chamado “perguntas e respostas”. Eu equilibro Aurora nos joelhos, faço perguntas matemáticas ou de geografia, e se ela errar derrubo-a no sofá. Ela gargalha como se tivesse três anos de novo.
Já dei presentes caros para minhas filhas, que foram rapidamente abandonados em gavetas e armários. Já dei presentes que comprei no aeroporto, como uma forma de suprir minha ausência por uma semana.
Percebi que os presentes acompanhavam uma tensão, disputas entre as duas para saber quem tinha o melhor presente, perguntas sobre o que ganhariam na próxima viagem. Era como se os presentes nos separassem, ao invés de nos unir.
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Quando damos brinquedos caros para nossos filhos temos alguns resultados desagradáveis. Nossos filhos começam a acreditar que têm o direito de obter tudo o que desejam. Nossos filhos começam a comparar os brinquedos deles com os brinquedos de outras pessoas. Nossos filhos passam a descartar rapidamente aquilo que ganham, pois acreditam que ganharão algo melhor na semana que vem. Nossos filhos não valorizam o que têm, muitas vezes quebrando os brinquedos novos ou tratando-os com displicência.
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Contraditoriamente, não desenvolvem generosidade, não emprestam os brinquedos para outras crianças, pois acreditam que a posse é um valor importante daquilo que são. Se outra criança pegar o brinquedo, mesmo que seja um que ele não quer mais, a outra criança terá, comparativamente, uma vantagem. A criança que tudo ganha acha que o valor está em ter, não em ser.
Um amigo me contou que, em um dia das crianças passado, fez uma caça ao tesouro para comemorar a data com o filho. Ele e a esposa espalharam presentes pela casa e, ao acordar, a criança ia descobrindo o que ganhou, presente por presente. Eram cerca de dez presentes. Tudo documentado nas redes sociais. A criança achou cada um dos presentes, abriu cada um dos presentes, olhou para cada um dos presentes, e então, os abandonou. Olhou para os pais, como quem diz: “E agora? Me entretenham mais”. Os pais, angustiados, passaram o feriado tentando agradar o filho. O Dia das Crianças, pra esse meu amigo, era uma angústia. Preciso avisá-lo da magia que tem uma bolinha pula-pula de um real.
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