Mês passado, sonhei com meu amigo David. Toda a cena era muito típica das muitas vezes em que eu e ele nos encontramos: ele estava de pé em um bar lotado, ao lado de uma mesa de amigos, rodeado de uma pequena multidão de bêbados de todas as idades, que entravam e saiam do bar em busca de mais chopes, um banheiro, ou o cardápio por favor. Tudo era absolutamente habitual e realista, com exceção do David: ele estava feliz como sempre, falante como sempre, sorridente como sempre, mas estava jovem como nunca. Deveria ter uns 20 anos, no meu sonho.
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Não sou místico nem nada, mas, inevitável, imaginei que o sonho poderia ser uma premonição de que o David ficaria curado do câncer que descobriu no fim de 2012. Os médicos davam alguns meses de vida, mas um amigo de um amigo conseguiu colocá-lo em uma lista de pacientes que estavam testando novas drogas em uma das melhores universidades do mundo, em Boston. David mudou-se para lá com a família. “Virei uma cobaia”, ele nos disse rindo, na mesa do bar em que marcou a despedida do Brasil.
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Voltei a vê-lo há três anos, e parecia curado. Tive convicção de que teríamos ainda muitos chopes pela frente. Um tempo depois, voltaram as dores, os remédios e os tratamentos. Os últimos meses foram duríssimos. Enquanto batalhou contra o câncer, viveu o bastante para ver o filho crescendo e ficando igualzinho ao pai: óculos, sorriso, paixão pela leitura, cabelo ondulado. Um mini David.
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No meu sonho, talvez, o David fosse o filho dele, adolescente, no futuro. Ou, quem sabe, fosse o próprio David no seu pequeno paraíso. Uma vez me disseram que o céu talvez seja o lugar em que você passa a eternidade do jeito que foi mais feliz na terra. Um bar cheio de amigos seria o céu perfeito para o David Coimbra.
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No mês passado, quando tive o sonho, mandei minha última mensagem para ele. “Sonhei contigo, cara. Tu tava bem e saudável. Parecia um guri”. Ele me respondeu: “Amém”.
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