Foi no meio de uma semana exaustiva que eu aluguei um carro no aeroporto de Campinas (SP) e comecei uma viagem de quatro horas até o interior de São Paulo, rumo à mais uma palestra que daria aquela semana. Era perto das 11 horas da noite e eu já estava no meio da viagem quando cheguei ao primeiro pedágio, para só então me lembrar: estava sem dinheiro na carteira! Meu carro tem aquela invenção fantástica, aquele chip que faz com que você passe direto pelos pedágios, mas o carro que eu dirigia naquele dia era alugado e não tinha esses gueri-gueris. E agora?
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Parei no guichê e expliquei para a senhorita que estava sem dinheiro. Ela, provavelmente acostumada com esse tipo de situação, me disse que não poderia fazer nada, o famoso “eu só trabalho aqui”.
Me informou que o caixa eletrônico mais próximo ficava 20 quilômetros voltando o caminho que eu já tinha feito – ou seja, eu teria que dirigir 20 quilômetros até lá, sacar R$ 10, dirigir mais 20 quilômetros até o pedágio, para pagar R$ 10 e continuar minha viagem. Implorei: “Estou exausto, é quase meia-noite. Não há nada que você possa fazer?”, e ela apenas disse que não.
Me deu, então, um papelzinho para que eu fizesse a volta e entregasse lá do outro lado do pedágio, no guichê de quem volta – no papelzinho estava escrito algo como “este é só mais um motorista estúpido sem dinheiro que terá que fazer a volta até o caixa eletrônico mais próximo, não precisa cobrar dele”, não com essas palavras, mas quase isso.
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Assim, fiz a volta, parei no guichê do outro lado e entreguei o papel para outra atendente. Ela me olhou e disse: “Por causa de R$ 10 você vai ter que dirigir 40 quilômetros a essa hora da noite?”. Eu disse que sim. “Quer saber?”, ela me disse, “vou pagar R$ 10 reais para o senhor. Não vou fazer isso com o senhor”. Olhei pra ela abismado, agradecido, emocionado. “Agradeço muito”, falei pra ela. “Você está sendo um anjo na minha vida hoje. E tento todos os dias ser um anjo na vida dos outros também”.
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Continuei a viagem, dormi no hotel, fiz a palestra no dia seguinte pela manhã, voltei pela mesma estrada e, quando parei no pedágio no retorno, deixei uma carta de agradecimento para a atendente, alguns bombons, e mais R$ 20 para pagar minha dívida da noite anterior e mais a de quem mais vier a passar pela mesma situação, qualquer dia desses.
Nunca vou encontrar novamente com aquela atendente, mas ela reforçou minha crença no potencial que todos temos de mudar o dia de alguém, seja lá o que façamos. O mundo é cheio de pessoas boas. Se você não consegue encontrá-las, seja uma.
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