Claro que sim, respondo de pronto, contrariando a regra jornalística de escrever um texto longo antes de dar a resposta que, geralmente, aparece apenas no último parágrafo. Claro que sim, as escolas devem abrir: em primeiríssimo lugar, as escolas públicas, lugar onde tantas crianças têm o único ponto de contato com aprendizado e práticas esportivas; espaço em que muitas delas encontram alimento inexistente em suas casas; ponto de contato com professores que podem avaliar o estado físico e emocional.

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Se crianças fossem a prioridade, escolas públicas de ensino básico seriam prioridade. Mas o orçamento para o ensino básico em 2020 foi o mais baixo da década, de R$ 42,8 bilhões. O gasto total com o auxílio emergencial foi de R$ 275 bilhões.

Sem falar que, com os filhos na escola, mães poderiam voltar ao trabalho. A pandemia fez com que, atualmente, mais da metade das mulheres brasileiras estejam fora do mercado de trabalho. Lamentavelmente, são as mães que cuidam dos filhos no Brasil. São 11 milhões de mães solteiras, sem um apoio no cuidado parental, e outras tantas com o marido ao lado que não pode (ou não quer) participar.

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Das famílias com filhos no Brasil 53% são casais, 26% são mães solo, apenas 3% são pais (homens) sem esposa. As mulheres foram especialmente impactadas pela pandemia e são, antes da pandemia, impactadas profissionalmente pela maternidade. Trabalho com parentalidade desde 2014, buscando conscientizar pais a serem mais participativos. Um pai presente melhora o cuidado da criança, a vida da mãe e o próprio comportamento.

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As escolas públicas deveriam reabrir, seguindo os passos obrigatórios: vacinar todos os professores e servidores da escola; estabelecer normas de cuidado com contágio entre crianças e professores e servidores (nenhuma vacina oferece 100% de proteção); investir em testes para todos quando alguém apresentar diagnóstico positivo.

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Depois das escolas públicas, as escolas particulares deveriam reabrir seguindo os mesmos protocolos – o impacto da pandemia na saúde mental das mães, pais e crianças e na vida profissional dos pais independe de classe social. Crianças de todos os níveis sociais precisam encontrar na escola o aprendizado, os amigos, as práticas esportivas, a cura através da arte, da conversa e do acompanhamento psicológico.

É claro que as escolas deveriam reabrir, para o bem das famílias e das crianças brasileiras. Mas nenhuma escola deveria reabrir sem que todos os funcionários estejam vacinados, sem protocolos sérios de distanciamento e cuidados, se não tivermos investimentos em testes e acompanhamento de contatos contaminados, se as crianças e professores não forem realmente protegidos. Nenhuma escola deveria reabrir se a sociedade estiver envolta em caos e desinformação, desrespeito e individualismo. 

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Ou seja, escolas deveriam reabrir, é claro. Mas, infelizmente, não deveriam.

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