Conheci a Isadora quando ela e a irmã gêmea, Heloísa, vieram me pedir um autógrafo em um lançamento do livro. Nunca tinha visto uma menina cega tão feliz. As duas meninas pulavam de alegria, uma excitação genuinamente infantil, a Heloísa guiando a Isadora até mim, as duas me abraçaram de um jeito que jamais esquecerei.

Continua depois da publicidade

> Receba as principais notícias de Santa Catarina pelo WhatsApp

Isadora sorria o tempo todo, sua irmã descrevendo tudo o que estava acontecendo ao redor. “Ele está apertando a mão do tio, está cumprimentando a tia, está assinando o nosso livro, Isadora”, e assim por diante.

A Isadora sorria, seus olhos vazios mas seu coração cheio, como se tudo fosse pura magia ao seu redor. Segurava a mão da irmã, me abraçava uma, duas, três vezes. Tiramos uma foto juntos, sua tia chorava, eu chorava, não consigo até hoje saber o motivo. Acho que a gente chorava pela beleza da relação das duas irmãs. A gente chorava por uma menina cega ser tão pura e feliz.

Pela forma como a Heloísa descrevia o mundo para a Isadora. Pela forma agradecida com que a Isadora via o mundo. A menina me puxou pelo braço: “Será que você não podia gravar o seu livro pra eu ouvir?”. Eu disse que sim. Gravei o livro inteiro, em audiobook, dedicado à Isadora.

Continua depois da publicidade

Já foram mais de meio milhão de pessoas que apertaram o play nas faixas, colocadas de graça na internet. Muitos comentários agradecem a mim, mas deveriam agradecer a Isadora.

> Cuidado, contém “positividade tóxica”

Sempre que eu estou reclamão, me sentindo injustiçado, revoltado, lembro de você, Isadora. Nunca vou me esquecer da sua doçura. Você me ajudou a ver o mundo de outra forma. Naqueles poucos minutos juntos, tudo estava bom pra você, tudo era incrível ao seu redor.

Adorei a forma como você vê o mundo, Isadora. Quero vê-lo da mesma forma. Agradecer mais pelo que eu tenho, reclamar menos daquilo que não posso ter. Prestar atenção nas minhas sortes. Nessa sorte que temos de estar vivos, aqui e agora.

> Leia outras crônicas de Marcos Piangers