Foi naquela porta que a gente marcou a altura da Aurora, começou quando ela era um toquinho e foi até fevereiro agora, quando entregamos o apartamento. No corredor, brincamos de futebol de meia, de bolinha pula-pula, de patinar com meia de lã, de labirinto de fita crepe (você vai colando uma mesma fita nas paredes, como se fosse um raio onde não se pode encostar, como se fosse aqueles filmes de assalto ao museu). Brincamos de pega-pega por toda essa casa. De esconde-esconde (o melhor esconderijo era atrás do varal, na área de serviço) e de caça aos ovos na Páscoa, com pistas espalhadas por todo o apartamento.

Continua depois da publicidade

Receba as principais notícias de Santa Catarina pelo Whatsapp

Quem quis morar aqui foi a Anita, ficou fascinada com o quarto do meio, cheio de móveis brancos. Ia para escola a pé. Com o tempo, o quarto dela foi se enchendo de caixas, revistas Vogue e livros, dezenas de livros. Minha filha virou adolescente aqui. Aguentou a gente durante uma pandemia que durou meses intermináveis, suportou aniversários por Zoom, aprendeu a acordar muito cedo pra estudar no ensino médio e a sair de casa sozinha, eu da cama dizia: “Boa aula, filha”.

Catarinense é destaque em lista de cientistas latinas ao criar purificador de ar inovador

Encaixotamos nossas coisas nos últimos dias, jogando fora sacos imensos de lembranças. Abrindo espaço para novas. O apartamento novo minha esposa reformou, pensei até em fazer uma placa: “Este apartamento foi completamente reformado por Ana Emília, sem nenhuma ajuda dos outros membros da família que, na maioria do tempo inclusive só atrapalharam”. Foram meses de reforma, eu tinha dito pra ela que demoraria e custaria muito mais do que o esperado, previ até, com surpreendente exatidão, que nós dois brigaríamos muito durante a reforma, não sei como fui tão presciente.

Continua depois da publicidade

Bancos abrem nesta segunda-feira de Carnaval? Veja como ficam os horários de atendimento

Amanhã vem o caminhão de mudança. Vai levar nossas coisas para um novo lugar. “Seremos felizes?”, eu me pergunto, porque toda mudança desperta uma série de receios. Até hoje, fomos felizes por todos os lugares que passamos, apartamentos velhos e novos, espaçosos e apertados, todos eles ganharam figurinhas coladas nas paredes, giz de cera esquecidos nas gavetas, meias atrás da máquina de lavar, e tantas risadas que se você colocar o ouvido na parede ainda vai conseguir escutar.

Leia outras colunas de Marcos Piangers

Novos moradores, escutem. Essa casa já foi nossa. Agora é a vez de vocês.

Leia também:

Empresário e família de SC morrem em acidente com caminhão no MS

Homem morre após sofrer parada cardiorrespiratória durante trilha em SC

A vida de luxo do “braço direito” do Escobar Brasileiro em Balneário Camboriú

Família de SC morta no MS inaugurou granja há 7 meses: “Humildes e batalhadores”