Pedir para que um adolescente esteja satisfeito com o que tem é como pedir para um esquilo relaxar com as incontáveis nozes disponíveis na natureza, absolutamente inútil. Esquilos e adolescentes têm esta obsessão pelo novo, pelo mais, pelo insaciável. Veja minha filha, quando me pediu um celular novo: disse que pra ela era MUITO IMPORTANTE que tivesse boa capacidade de armazenamento e a melhor câmera possível. Mobilizou a família, juntou dinheiro de todos os lados, comprou o tal do telefone, e tenho certeza que alguns segundos depois já o considera obsoleto.

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Meus sonhos de consumo quando adolescente eram um tênis M2000 de língua amarela fosforescente, uma prancha de morey boogie mach 7-SS e uma carteira da Ocean Pacific ou da Company. Lembro que sempre que eu pedia pra minha mãe algum desses presentes ela fazia uma careta e perguntava porque eu queria tudo colorido. Pra mim era MUITO IMPORTANTE parecer um daqueles surfistas que eu via na praia da Joaquina nos anos 90, eu precisava dos acessórios que me transformassem em algo diferente das crianças, algo diferente dos adultos. Para descobrir quem eu mesmo era, eu precisava imitar os outros.

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“Nossos jovens atuais parecem amar o luxo. Têm maus modos e desprezam a autoridade. São desrespeitosos com os adultos e passam o tempo vagando nas praças. São propensos a ofender seus pais, monopolizam a conversa quando estão em companhia de outras pessoas mais velhas; comem com voracidade e tiranizam seus professores”, disse Sócrates, 400 anos antes de Cristo. Faz cerca de 3 mil anos que o filósofo grego Hesíodo disse: “Quando eu era menino ensinavam-nos a ser discretos e a respeitar os mais velhos, mas os moços de hoje são excessivamente sabidos e não toleram restrições”. Os jovens, aparentemente, foram sempre assim, e os adultos, da mesma forma, sempre intolerantes com os adolescentes. No momento em que viramos adultos, esquecemos os jovens afobados que fomos.

A juventude parece mesmo perdida, mas não mais nem menos perdida do que era quando éramos jovens. A única vantagem que temos, mais velhos, é que entendemos que celulares novos e tênis da moda não nos deixam mais felizes ou satisfeitos. De resto, continuamos tentando preencher, com a arte, os hobbies e os afetos, a insaciável fome que temos pelo novo.

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