Leio que uma Inteligência Artificial acaba de completar a décima sinfonia de Beethoven, abandonada pelo artista com apenas algumas notas antes de morrer em 1827. A sinfonia é bonita e os críticos parecem ter ficado impressionados, mas alguns deles acharam que faltou algo, uma virada, algo que realmente imprimisse a marca de Ludwig Van Beethoven, algo que não fosse meramente uma imitação do estilo dele. Ainda assim, é um marco para a inteligência artificial.

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Algoritmos e robôs já conseguem escrever poesia, redigir textos jornalísticos, pintar quadros, compôr rap e música pop, inventar rostos de pessoas que nunca existiram e simular personalidades. O aplicativo Replika é um bate-papo com um “amigo” virtual que aos poucos vai conhecendo você e perguntando sobre gostos e opiniões. A inteligência artificial já é mais criativa do que humanos, pelo menos no xadrez. Algoritmos se tornaram imbatíveis no jogo – e em outros jogos que exigem lógica e criatividade. 

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Por trás de tanta tecnologia existe uma melancolia. Um sentimento humano de que, com todas estas novidades tecnológicas, de alguma forma perdemos um pouco da nossa alma. Imagine que você ouve uma música linda, seu gênero favorito, suas notas favoritas, uma melodia que lembra sua infância, sua mãe, o cheiro das torradas com manteiga em um domingo de manhã abraçado com as pessoas que você mais amou. Ao fim da música, alguém diz que aquela foi uma música personalizada, construída por uma inteligência artificial que vasculhou seus textos, fotos e redes sociais e conseguiu compôr algo que tocasse seus sentimentos de modo único. O que você sentiria? Eu me sentiria manipulado.

> Frase pronta

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Do contrário, se me dissessem que aquela era uma música composta por alguém que viveu e sofreu e amou e comeu torradas com suas duas filhas em um domingo de manhã, eu me identificaria. Eu diria: essa música é a mais linda que já ouvi, a mais humana. Existe uma melancolia na nossa relação com os robôs, porque sabemos que, no fundo, falta-lhes o que chamamos de alma. Falta-lhes cicatrizes, dores, amores não correspondidos, traumas. O que passamos a vida evitando, na verdade, é o que nos diferencia das máquinas.

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Em 2017 a revista New Yorker fez uma das famosas capas: um homem sentado na calçada, recebendo esmolas de um robô. Em 1956 esta ideia já tinha sido usada na capa da revista Galaxy. Data dos anos 1920 as primeiras manchetes dizendo que os robôs substituiriam postos de trabalho e em 1779 os ludistas já quebravam máquinas em protesto à substituição de trabalhadores. Nossa relação com tecnologia é ambivalente, vemos avanços ora fascinados, ora indignados. Olhamos exageradamente para as máquinas, quando deveríamos olhar pra dentro de nós mesmos. No fundo, fazemos isso por medo do que iremos encontrar.

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