A partir das 8h30min desta sexta-feira, uma reunião na sede da OAB-SC abrirá um novo capítulo na tumultuada história da Fundação Catarinense de Assistência Social (Fucas). A portas fechadas, o promotor Davi do Espírito Santo vai recomendar uma intervenção na fundação a um grupo de conselheiros da Fucas. Eles vão acatar.

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A Fucas já passou por uma longa intervenção antes, que durou oito anos. Esta será a segunda.

Com isso, será afastado do cargo o presidente Roberto Ulisses de Alencar. Sob sua gestão, a Fucas viu escorrer dezenas de milhões de reais de seu patrimônio, culminando com salários atrasados dos funcionários e, mais grave, crianças e adolescentes repentinamente desassistidos.

Sob suspeita

Com a intervenção do Ministério Público Estadual, que é o responsável por velar a fundação, também se abrirá o caminho para investigar o destino do dinheiro que sumiu. Ainda que tenha demorado a agir, a promotoria já tem há bastante tempo em mãos uma rede de indícios que pode se transformar em uma linha reta e clara de investigação. É a seguinte:

1. A Fucas começou o ano de 2014 com R$ 57 milhões aplicados em um fundo relativamente conservador, que garantiriam sua sobrevivência por décadas.

2. Em outubro de 2014, foram sacados R$ 17 milhões desse fundo.

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3. Em novembro de 2014, o então interventor da Fucas, Ildemar Cassias Pereira, se reuniu na Caixa Econômica Federal com diretores da empresa Brasc Construções e Incorporações Ltda. Queria saber da Caixa se havia irregularidades na Brasc. Não havia. Com isso registrado em ata, aportou na Brasc boa parte dos recursos que sacou.

4. Quem ajudava a representar a Brasc, a essa época, era Roberto Ulisses de Alencar, que se tornaria, mais adiante, presidente da Fucas. Cargo que ocupa até a manhã desta sexta-feira.

5. Em dezembro de 2014, logo após a reunião na Caixa, foram sacados mais R$ 12 milhões daquele fundo. Boa parte, de novo, aportada em empreendimentos da Brasc.

6. Cassias, mais tarde, passou de interventor a superintendente, até ser afastado em setembro do ano passado. Roberto virou presidente.

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7. A Brasc, com o dinheiro, começou a construir imóveis em Joinville. A construção parou. Segue parada.

8. Em setembro de 2015, meses depois de retirar o dinheiro do fundo e investir nos empreendimentos hoje parados, Cassias e um dos sócios da Brasc fizeram uma viagem pela Europa, com paradas na Itália e na Suíça. Não é ilegal que um superintendente de uma fundação e um sócio de uma empreiteira contratada por ela viajem juntos. Só é estranho.

9. A Fucas é uma fundação de assistência social. Dos R$ 57 milhões de 2014, sobram R$ 11 milhões, sem liquidez imediata.

10. Na reunião desta sexta-feira, a solução para resolver o enterro dos milhões de reais em obras inacabadas será apresentar um novo interventor que conclua a venda de um imóvel da Fucas em Jurerê por cerca de R$ 4 milhões. Com isso, haverá um respiro: para crianças, adolescentes, funcionários e o próprio Ministério Público, que terá a oportunidade de se debruçar sobre o caso e investigar o valor perdido.

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Procurado, o presidente da Fucas, Roberto Ulisses de Alencar, não quis se manifestar.

Procurado, Ildemar Cassias Pereira não quis se manifestar.

Procurada, a Brasc não atendeu.

Procurado, o promotor Davi do Espírito Santo não quis se manifestar.

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