Escrevi na terça-feira que a palavra “austeridade” provoca arrepios na pele. “Austeridade fiscal”, na alma.
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Está aí a prefeitura com um projeto para contratar Organizações Sociais (OS) a fim de abrir 10 creches e fazer funcionar a UPA do Continente. Não há outra solução legal para contratar pessoas em uma prefeitura que está impedida legalmente de realizar concursos.
Hoje, nas tabelas que acompanham esta nota, vê-se claramente que há indícios de conveniência (para não dizer descaso) entre servidores públicos essenciais, quando grande parcela de professores efetivos tira licença por motivo de saúde assim que começam as aulas.
Dar aula é um privilégio e o Estado tem de se valer de ações mais criativas. Por exemplo: há muita gente (humildemente, me incluo entre elas) que daria aula de “graça”, mediante acordo com empresas privadas que enxergam na educação o único futuro possível para essa barafunda.
Todos ganhariam. Ninguém pediria licença.
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Mas o quadro da licença por motivo de saúde da administração municipal mostra que não há como se ter uma educação decente.
O gráfico mostra que, dos lecionadores efetivos, o percentual dos que estão em licença cai em janeiro e fevereiro, que são meses de… férias!
No resto do ano, o gráfico fala por si.
Em relação aos professores temporários, denominados ACTs, 45% estão de licença justamente em janeiro e fevereiro, quando há creche de verão.
No resto do ano, entre efetivos e temporários, a média se equivale: quase um terço dos professores afastados por algum problema de saúde.
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Você paga por isso!
Pelo que ganham os professores que não trabalham, pelo que perdem os alunos com um ensino horroroso, pelo que todos nós perdemos. Com isso.
Outra visão
Ainda bem que nem todos pensam da mesma maneira. Um leitor me escreveu a respeito do assunto, mas não consegui a tempo a autorização para citá-lo. Então preservo seu nome, mas reproduzo o que diz:
“Então o problema da saúde financeira do Estado é contábil? Não temos recursos suficientes para prestar serviços porque gastamos demais com servidores, inclusive enfrentando casos escrachados de fraudes em licenças médicas, etc, e a solução é contratar OS, porque assim burlamos os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal?
Desculpe os maus modos, mas o seu conceito de austeridade e eficiência parecem bem equivocados.
Se um articulista se encontra imerso na cultura dominante na política e na burocracia estatal e não consegue ver as evidências, então a única saída é mesmo o aeroporto.”
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