Começou a safra, mas as tainhas ainda estão tímidas. Segue em paz a convivência entre surfistas em seus tubos e pescadores em suas canoas. Para quem aprecia não só a gastronomia, mas a tradição, Pedro Aparício Inácio, 53 anos conta como serão os próximos dias. E dá dicas. Pescador no Campeche, em Florianópolis, é sobrinho de Seu Getúlio Inácio, falecido em janeiro e homenageado na missa do dia 1º, que deu início à safra. Pedro é filho de seu Aparício, 80 anos. Veja o que diz:

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Início

“Não tem muita movimentação. Tem uns magotes de peixe, mas são tainhotas, não tainhas. Essas tainhotas já estão aí há umas duas semanas. É um peixe menor, não tem? Tainha é um peixe grande, dois quilos, pra mais. Tainhota é um peixe que vem na frente, com algumas tainhas misturadas”.


Sabor 

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“Essa tainhota que tá chegando agora é um peixe que tá meio sujo da lagoa, entendesse? É um peixe que se tu comer não é gostoso, é meio magro, aquela barriga de lama”.


Mar

“Entrou um mar muito agitado. Praia de mar grosso (como o Campeche) não dá pra sair canoa. Mas é bom esse mar agitado pra trazer as tainhas. Elas se procriam na Lagoa dos Patos, na do Uruguai, então tem muito chão pra elas. Precisamos de vento Sul e desse mar agitado, pro peixe vir viajando, senão não chega”.


Época

“Geralmente, pra pegar tainha boa, é lá pelo dia 15, dia 20. Mais pra frente, pro final de maio, é uma tainha melhor ainda. É uma tainha mais limpa, um peixe do corso, peixe gordo, gostoso, saboroso. Final de maio é que é o corso mesmo do peixe. Pra final de junho, já é um peixe que começa a parar no costão, um peixe que fica com a escama mole, peixe desovado, não tem? É peixe com outro sabor. Pra julho, mesmo, é uma tainha horrível. Uma tainha magra, desovada”.


A captura

“Em mar de onda, tem que ser bom pra sair com a canoa. O pessoal empurra, quatro no remo, um pra botar o chumbo e o patrão, condutor da canoa. Aí você observa o mar grosso. Ficam uns canaletes. Depois deles, tem uma bancada de areia, onde quebram as ondas. O patrão observa a hora pra tocarem o remo e atravessar a arrebentação. É o momento que o mar dá aquele liso, aquela brecha.”

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A venda

“Nosso comércio é mais com o pessoal de praia mesmo. A gente vende no olho, o preço depende do tamanho. Se tem uma balancinha, a gente pesa.”


Melhor jeito de fazer

“Meu preferido é frita. Assada é show de bola. Mas saborosa mesmo é salzinho, limão e jogar na frigideira.”

 

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