Disse que o Brasil é o país mais racista do mundo.

Recebi uma enxurrada de críticas de brancos, como eu.

Leitores raivosos, outros polidos. Mas nenhum deixou de me questionar: como assim, racista?

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A informação é empírica, já digo.

Cientificamente, não há como saber. Porque o racismo não se anuncia, não se declara, não se admite.

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Ninguém diz ao Ibope: “Sou racista”.

Ao contrário.

Desde cedo aprendemos que somos um país mestiço. E isso soa bonito.

Aparentemente, todos temos antepassados negros e índios, o que nos justifica. Demos até nomes a essas misturas: mulato, mameluco. Demos nomes à miscigenação, o que mostra que…

…O Brasil é o país mais racista do mundo.

Décio Freitas, um historiador falecido, disse-me essa exata frase acima, certa vez. E complementou com o que escrevi na coluna: que outra razão explica o fato de a maioria dos pobres ser negra?

Não tem outra razão.

Pode-se tentar recorrer ao legado da escravidão. Não funciona.

O Brasil racista se revela, por exemplo, na ausência de negros em cargos de poder. O próprio Joaquim Barbosa, embora tivesse mérito, entrou no STF em uma espécie de cota. Era preciso mostrar ao país do PT e ao mundo que havia um ministro negro no Supremo. Barack Obama chegou à Casa Branca pelo voto, após estudar nas melhores escolas, vindo de uma família pobre. Negro com nome que remete ao Islã (sobre o qual paira o preconceito religioso), chegou à Presidência de um país que hoje tem um branco à frente.

Obama é negro, tem origem no Islã em um país que declarou guerra a muçulmanos e que, teoricamente, despreza negros. Foi eleito.

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Os Estados Unidos são um país racista. Mas um país racista no qual os negros têm oportunidades.

Que oportunidades o Brasil dá aos negros, além das cotas?

Quantos colegas de trabalho negros você tem?

A Índia, dirão, é mais racista, porque há um sistema de castas. Mas o racismo brasileiro é diferente: se traveste de mestiçagem.

Vamos deixar isso de lado? Diz-se que, no fundo, todos somos negros. Com isso, a questão parece solucionada. E estamos todos bem, desde que a gente não toque mais no assunto.

Deixa quieto.

 

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