O deputado federal que mais defende a posse de armas por “cidadãos de bem” afirma não ter condições de portar uma. Rogério Peninha, do PMDB catarinense, já teve arma. Com ela, atirou em pratos. Pratos ao ar. Se pudesse portar uma, atiraria em pratos. Pratos ao ar. Nunca foi assaltado. Não sabe o que faria numa situação dessas, embora poste no Facebook vídeos de pessoas que reagem a assaltos e matam ladrões. Conversamos ontem:

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O senhor acha mesmo que, se a vereadora Marielle (Franco, morta no Rio de Janeiro) tivesse uma arma, ela poderia ter revidado?
Peninha –
Independentemente disso, meu projeto de lei não é substituir a segurança. Até porque ali foi um ato de extrema covardia.

O senhor tem arma?
Peninha –
Já tive, não tenho mais.

Por que não tem?
Peninha –  
Não tenho condições. Pelas exigências que são colocadas.

E por que o senhor quer uma?
Peninha –
Pela questão da defesa pessoal.

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Para lhe defender ou ao seu patrimônio?
Peninha –
Não quero entrar no mérito. É para dar a liberdade do cidadão que precisar.

O senhor já atirou?
Peninha –
Já, quando a legislação permitia. Em pratos, ao ar.

Em alguém vivo?
Peninha –
Não.

Já matou algum bandido?
Peninha –
Por que essa pergunta?

Porque é o que o senhor defende em sua redes sociais.
Peninha –
Não. Nunca.

A versão de Peninha
A conversa com o deputado Peninha foi ontem. Na sexta, fiz uma crítica a ele e a Bolsonaro. No sábado, ele me mandou uma resposta, a qual reproduzo:

“Caro Marcelo, foi muito infeliz a ligação que você tentou fazer entre a morte da vereadora Marielle e a revogação do Estatuto do Desarmamento, defendida por mim, pelo Bolsonaro e por dezenas de outros parlamentares em Brasília. Que ligação tem uma coisa com a outra, afinal? (…) O problema do Brasil não são as armas nas mãos dos cidadãos de bem, acredite. E aproveito para indagar: será que não estariam mais seguros, Marielle e Anderson, se portassem uma pistola no momento do crime? Armados, poderiam matar ou morrer. Desarmados, só tiveram uma opção, que todos sabemos qual foi.”

Rogério Peninha Mendonça
Deputado Federal

Enquanto isso…
Em frente ao Capitólio (sede do Legislativo americano), foram colocados 7 mil pares de calçados infantis. Representam a quantidade de crianças mortas por armas desde um massacre em 2012 (mais um). Cometido, aliás, por um “cidadão de bem”.

Os Estados Unidos são um dos países com legislação mais frouxa para a venda de arma. Um dos filhos de Jair Bolsonaro esteve lá, esses tempos, testando fuzis. Um dos ícones da direita radical, Otávio Carvalho mora lá e passa o tempo atirando, a esmo. 

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