Se o ex-presidente Lula cumprir a pena da caneta de Sérgio Moro, hoje estará preso.
É um dia triste. Não há o que comemorar.

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Todos vivemos sob seu governo. Mas a polarização que tomou conta do país dá a falsa impressão de que só uma parte estava ali, naquele janeiro de 2003, quando o povo tomou conta da Esplanada para chegar perto dele.

A derrota de Lula (sim, é uma derrota) é a derrota da gente.

Nas primeiras eleições diretas desde o fim do regime militar, eu tinha 11 anos. Morava em Brasília. Andava de bicicleta. Entre os amigos, nosso passatempo favorito era percorrer sobre duas rodas os diretórios dos candidatos, colecionando adesivos. No do PT, pegamos a primeira estrela.

No início dos anos 2000, vi Lula discursar no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. Ele já havia perdido três eleições. Lembro de ter pensado: “Que sujeito! Derrotado, vai perder mais uma”.

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Em 2002, veio a campanha “Agora é Lula”. Votei nele. Não tinha como não se empolgar com aquele momento. Um velho professor, na faculdade de Jornalismo, logo após vê-lo assumir e criar o Fome Zero, nos disse: “Um presidente que se preocupa com a fome!”

Sim, estávamos felizes. Havia esperança, que escorria do meu velho professor até mim.
Veio o mensalão. Ainda não era possível crer.

Em 2006 a campanha era ainda melhor: “É Lula de novo, com a força do povo”. E o jingle começava assim: “Não adianta tentarem me calar”. Hoje, pensando, não faz sentido. Ele era presidente, tinha maioria. Quem tentava calá-lo? Mas era difícil não ceder.

Pela RBS, cobri a visita de George W. Bush ao Brasil, em São Paulo. Estava na coletiva em que os dois presidentes falaram. André Singer era o homem da comunicação do Palácio. Hoje escreve na Folha de S.Paulo. Foram sorteados dois repórteres brasileiros para fazer pergunta e dois americanos. Eu não levei.

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Mas ali estava o contraditório, pensei: Bush e Lula.

De lá a cá, houve dois mandatos, um deles interrompido e prosseguido. Seus marqueteiros foram presos, os mesmos que fizeram as campanhas. Lula os descartou rapidamente.

Veio a Lava-Jato. Veio a revelação de que Lula se envolveu com os maiores empreiteiros do Brasil em um esquema de corrupção que não tem parâmetro no mundo. Veio à tona a riqueza instantânea de ao menos um de seus filhos. Veio a Petrobras.

Hoje, Lula vai à cadeia por causa de um tríplex. Seu discurso de esperança, com o qual se elegeu duas vezes, virou discurso de ódio.

Que cumpra a pena.

Mas não há o que celebrar nisso.
 
Correção

Diferentemente do que escrevi ontem, Rosa Weber não usava um colar, na quarta-feira. Era uma echarpe, que é uma faixa larga de tecido. Pode envolver o pescoço e dali descer. Não combina com aquela capa que os ministros têm de usar. Mas combina com sua elegância.

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