A Associação Empresarial de Jaraguá do Sul convidou Daniel Alves, empreendedor e diretor da aceleradora digital Modo 8, para falar a empresários sobre o futuro dos negócios no pós-pandemia.

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Com mais de 25 anos de experiência em marketing, estratégias transformadoras e inovação, em multinacionais e ecossistemas de startups, Daniel tem se dedicado ao desenvolvimento de soluções que vão além do digital, integrando à cultura organizacional de empresas tendências em modelos de negócios, definição de propósito e gestão de marcas, defende que três valores serão cada vez mais essenciais para que empresas se posicionem com maior competitividade após a crise gerada pela pandemia do coronavírus: empatia, discernimento e comunicação horizontal.

Diz que, mais do que nunca, as pessoas devem ser o centro da atenção das empresas, seja dentro ou fora das organizações, e que empresas com este propósito assegurarão não um “novo normal”, mas sim um “novo melhor”.

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Algumas das impressões deixadas por Daniel Alves:

Inovação começa pelas pessoas

Inovação é para todos, não é só nas empresas onde ela deve acontecer. A pandemia está afastando as pessoas de coisas que tinham como referência no dia a dia e isto leva a transformações em vários ambientes. Começamos a nos questionar se vamos ter saúde, se vamos continuar trabalhando, como vamos cuidar das nossas famílias. É uma mudança muito forte que faz com que as pessoas repensem sobre o que querem para a vida delas e o que desejam deixar para o mundo. Há um questionamento maior sobre o que de fato faz as pessoas felizes.

O capitalismo mudou?

As mudanças que ocorrem não é algo novo nos modos de produção e consumo. O capitalismo já vinha sofrendo um desgaste no seu modelo tradicional. Alguns dos principais CEOs do mundo corporativo já discutiam questões como o lucro, da necessidade de se ter propósito nos negócios e como as pessoas podem ser mais felizes. Com a crise, os modelos de negócios passam por uma transformação constante. É algo que muda a relação entre as pessoas, das pessoas com as marcas e empresas, que afeta o modo como se posicionam dentro das empresas e como elas funcionam, consequentemente isto afeta a economia, traz impactos nos governos e na sociedade.

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Sentimento das pessoas diante da doença

Toda esta situação de dúvidas gerada pela Covid traz incertezas e nos faz em sair da zona de conforto, exige a tomadas de decisões. Pesquisa da consultoria internacional McKinsey mostra que 50% dos brasileiros estão preocupados em perder o emprego, 23% das pessoas demonstraram otimismo diante da crise, 88% das pessoas tiveram algum impacto nas finanças do lar, e de 32 categorias de produtos apenas três mantiveram consumo elevado – saúde, limpeza e alimentação -, enquanto as demais registraram queda.

Foco deve ser as pessoas

Qualquer mudança que se faça pensando em empreendedorismo precisa ter como foco as pessoas. As pessoas evoluíram, nunca tivemos uma expectativa de vida tão grande e se desejou uma vida tão integral e holística. Isto afeta a inovação e o empreendedorismo de uma maneira muito forte. Então, se antes da pandemia já se pensava as pessoas como o centro e sobre o que é importante para que elas consigam cumprir seus propósitos, o capitalismo passou a se desenvolver de uma maneira mais responsável e consciente, tornando este um debate ainda mais importante.

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Mundo precisa de empresas transformadoras

Pequena ou grande empresa, ou até um empreendedor individual, cada vez mais é preciso que se tenha a capacidade de transformar vidas. Para sairmos deste momento em que temos um presente ao mesmo tempo atípico e negativo, de crise, em que se tenta preservar empregos e equilibrar fluxos de caixa, a reinvenção deve ser o foco das empresas.

Isto não significa simplesmente se tornar digital ou de se ter um novo modelo de negócios, mas antes disso pensar num futuro mais estável e em uma economia de qualidade, com portifólios voltados ao consumidor e de como fazer as pessoas felizes.

É uma mudança que traz valores intangíveis, mas ao mesmo tempo referências inestimáveis, como diferenciação, autenticidade, relevância e geram uma moeda social, criam um efeito de rede com pessoas propagando estas ideias e um sentimento de lealdade do consumidor. É tudo o que uma empresa quer ter, não importa o tamanho.

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Quando o mundo vai voltar ao normal?

Estudo realizado com 511 epidemiologistas dos EUA e do Canadá analisou todas as áreas da vida, chegando à conclusão de que ainda levará um tempo para que o mundo retome seu ritmo normal. Em áreas como saúde, educação, entretenimento e negócios, entre outras, este espaço de tempo deverá se estender de 12 a 18 meses ou até mais.

Outro levantamento ouviu CEOs das 500 maiores empresas nos EUA, com 77% dos pesquisados indicando que só retomaremos os mesmos níveis de negócios de antes da pandemia entre o primeiro trimestre de 2022 e o primeiro trimestre de 2023.

E como será o novo normal?

As pessoas deverão ser ainda mais o centro das atenções, com organizações assumindo cada vez mais um papel social relevante e empresas e governos sendo cada vez mais julgados por aquilo que fazem, o que significa termos não um novo norma,l e sim um novo melhor. Pessoas mais atentas, preocupadas e conscientes, que revalorizem as suas relações com as marcas e com as empresas, baseadas no impacto que elas têm no mundo, onde sobreviverão aqueles empreendedores que tiverem agilidade e capacidade de se adaptarem porque o cliente e o ambiente de negócios mudaram.

Neste contexto, os governos ganham uma relevância como agentes reguladores e articuladores do bem social, e setores como arte, cultura e turismo passarão por uma grande disrupção. Estas transformações podem dar mais sentido à uma sociedade mais solidária e cuidadosa diante do que passamos com a pandemia.

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Conexões baseadas na empatia, discernimento e melhor comunicação

Num mundo em que as relações são cada vez mais digitais, hiper conectado e com muitas informações, em que vivemos em rede, nunca ficou tão claro o quanto dependemos uns dos outros. Assim, cada um deve se colocar no lugar do outro, com mais empatia e com discernimento para saber perguntar e fazer com que a outra pessoa participe de projetos de cocriação. Onde a comunicação deve ser horizontal, não de cima para baixo, que trate o ser humano de igual para igual e não por relações de consumo.

Papel do governo, sociedade e empresas

Esta pandemia nos mostrou um país onde de repente apareceram 90 milhões de pessoas que estavam invisíveis, enfrentando muitas dificuldades até de sobrevivência. Ao mesmo tempo em que passamos por uma revisão nos nossos hábitos, no foco no consumo, não podemos deixar essas pessoas para trás, isto é vergonhoso para um país com tantas oportunidades.

. Se pensarmos que a crise tem um custo estimado entre 15 a 20 trilhões de dólares, ou 30% do PIB mundial, este é um custo que ninguém vai querer que se repita. A sociedade tem esta corresponsabilidade de assumir o protagonismo desta mudança, e o empreendedorismo contribui neste sentido porque as pessoas podem sair da sua zona de conforto e podem participar ativamente desta transformação.

Menos ideologia e mais inteligência

Somos consumidores das decisões dos governos, mas este papel está mudando cada vez mais, a verdade é que precisamos de menos ideologia e de mais inteligência. Não se trata de governos “y” ou “z”, mas de termos movimentações de maior digitalização da gestão pública, com mais capacidade de reação. Agora, só se consegue esta mudança se a população participar, e a tecnologia pode ajudar muito neste processo, porque nunca se teve tanta transparência nas informações e os governos passando a serem tão cobrados por suas atitudes.

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A iniciativa privada também terá de trabalhar forte para educar as pessoas para um mercado de trabalho que será muito diferente no futuro, e não dá para depender só do governo, sem o envolvimento das empresas não teremos mão de obra qualificada e ficaremos atrás de países que estão superando a crise mais rapidamente porque investem em educação e em sistemas inteligentes para capacitar as pessoas.