No mês em que a cidade celebra 168 anos de fundação, o prefeito de Joinville responde a perguntas que estão em todas as rodas de conversa.

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A manutenção da cidade está abandonada? Por que Joinville ainda não conta com um parque, nem com um teatro nas dimensões que realmente merece? O trânsito está difícil. Não tem o que fazer para melhorar a mobilidade? Só um terço da cidade tem esgoto tratado. Tem recursos para obras e melhorar o índice?

Estas são questões que se repetem em cada roda de conversa informal, nas redes sociais, e até em escritórios e em espaços de entidades e de empresas da cidade mais rica e populosa de Santa Catarina. Foi a partir destas percepções dos moradores de Joinville que propus ao prefeito Udo Döhler uma entrevista papo reto, como diriam os mais modernos.

Em uma conversa de peito aberto, o prefeito concorda que a cidade ainda não conta com o parque e o teatro que merece; fala de realizações e projetos que contrapõem as percepções de setores desatendidos, e antecipa um novo empréstimo para obras de infraestrutura. E conta que Joinville terá uma nova marca para aquela que já foi a Cidade das Bicicletas; a Cidade dos Príncipes, a Cidade das Flores. 

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Confira trechos a seguir:

Quando o senhor anda pelas ruas da cidade, qual é a maior demanda das pessoas? O que elas mais pedem?

Udo Döhler – O que mais pedem é para pavimentar ruas e aumentar a extensão de redes de água e esgoto do município. Estas são as maiores preocupações. Estamos investindo R$ 61 milhões em infraestrutura, com financiamento do Banco do Brasil. Os recursos já estão conosco e vamos pavimentar 212 ruas. Tenho uma outra boa notícia. Estamos buscando um segundo financiamento junto ao BB, também de R$ 61 milhões. Assim, faremos a pavimentação de 400 ruas, no total. 

A percepção das pessoas é que a cidade está abandonada. Buracos nas ruas continuam. Falta zeladoria. O senhor concorda?

Udo – Não entendemos assim. Precisamos comparar com o que encontramos no início do primeiro mandato. Houve melhoria importante. O Zoobotânico, o Parque Caieiras, o Mirante, o Parque São Francisco foram todos revitalizados.

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E museus estão fechados.

Udo – Ao assumirmos, encontramos 19 escolas e museus interditados. Uma situação de quase insolvência. Todas em condições precárias. Das 158 escolas reformamos 56. Na saúde, nenhum posto de saúde tinha alvará. Hoje, 60% tem acessibilidade e segurança. 

Recentemente, no dia 28 de fevereiro, caiu o telhado do prédio onde funcionava a Secretaria de Meio Ambiente – um imóvel alugado de terceiros. Antes já tinha caído parte do teto do terminal rodoviário de ônibus, no Centro. 

Udo – Vamos repactuar a manutenção dos terminais de ônibus com as concessionárias. Queremos que eles cuidem dos terminais. E determinamos que seja feita inspeção e uma força-tarefa foi criada para verificar os imóveis públicos e evitar e prevenir acidentes. 

E os buracos de rua continuam desafiando os motoristas.

Udo – Tivemos problemas com empreiteira, que pediu aditamento financeiro ao contrato assinado. Não vamos conceder. As obras não vão ficar paradas. 

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Joinville foi moldada e cresceu pela indústria. Não temos um parque, nem um teatro digno desse nome. São deficiências de uma cidade que atrai cada vez mais pessoas em busca de qualidade de vida.

Udo – Foi bom ter levantado essa questão. Assinamos um contrato com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) no valor de US$ 70 milhões para, entre outras coisas, a construção de um parque, o Parque Piraí, na rodovia do Arroz, com 400 mil metros quadrados. 

Mas isso já vem sendo falado há cinco anos, prefeito.

Udo – Sim. E dependia do aval do governo federal. Demorou três anos para conseguir a garantia da União. Há etapas a vencer. O Fonplata nos concedeu financiamento para a construção de ponte ligando os bairros Ademar Garcia e Boa Vista. Alavancamos recursos olhando para o futuro.

Mas, a cultura ficou em segundo plano. Não há teatro. 

Udo – Isso é rigorosamente verdadeiro. Falta-nos um teatro com as características e tamanho que Joinville merece. Joinville terá uma nova marca. Já foi Cidade dos Príncipes; Cidade das Bicicletas, Cidade das Flores. A marca de Joinville será Cidade da Dança. Dança é cultura, é movimento, é inovação. E está sintonizada com o que desejamos para o futuro. 

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E o teatro?

Udo – Na gestão do governador Eduardo Pinho Moreira pedimos ao Estado a construção de um teatro, que será um centro de dança, cultura e inovação. O Terá 10 mil m², com 7.500 m² de área construída e investimento de R$ 61 milhões. Um teatro para mil lugares. Com três torres e uso misto. 

A ideia é utilizar aquele espaço da Agência de Desenvolvimento Regional, na rua Nove de Março.

Udo –  Exatamente. Sem investimento por parte do Estado, que entraria com o terreno, avaliado em R$ 20 milhões. A iniciativa privada cuidaria da obra e poderia explorar parte do espaço comercialmente.

Mas, prefeito… Isso tudo – a ponte, o teatro, o parque – são obras que vão ficar para depois de seu segundo mandato.

Udo – A cidade não acaba em quatro, em oito anos. Temos de olhar adiante. Por isso, logo no começo do primeiro mandato, definimos dois marcos: 2030 e 2045. Em 2045, Joinville terá 1 milhão de habitantes e a sua economia vai triplicar de tamanho. Veja: nos últimos 16 anos, construiu-se um empreendimento que hoje representa 21% do PIB do município num único local – o Perini Business Park.  

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Precisa desconcentrar…

Udo – Em breve teremos um segundo distrito industrial, no Paranaguamirim, na zona Sul. Joinville reúne todas as condições para crescer nos próximos 30 anos. Tem energia elétrica, abastecimento de água garantidas.

O grande problema diário dos moradores é o trânsito. A mobilidade se parece com São Paulo. Sair do Sul para trabalhar nas indústrias da região Norte demora mais de uma hora. De carro, 40 minutos. Tem solução?

Udo – Tem. E não é solução convencional. Os viadutos de São Paulo, Rio vão perder função. O automóvel de hoje desaparecerá em 20 anos. Será substituído por novas tecnologias, será diferente. O transporte será intermodal.

Mas, a geração de hoje tem de andar, necessariamente, nas mesmas ruas que temos agora. 

Udo – Fizemos nosso plano de mobilidade, que é referência no país. Temos de alargar o transporte público; que é caro. As vans vão lotadas. E nelas não há gratuidade. E, nas áreas centrais, estimular o uso de bicicletas. Vamos revitalizar o Centro da cidade. O projeto já é conhecido. E isso vai aumentar a qualidade de vida. 

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Joinville vai absorver, cada vez mais, profissionais de fora. Estamos preparados? 

Udo – Sessenta por cento das profissões atuais vão desaparecer. Os talentos do futuro virão para Joinville, se houver qualidade de vida. Por isso investimos fortemente na Educação. E vamos ter alunos da rede municipal aprendendo robótica, e ocupando espaços makers.

Uma questão que atrapalha Joinville é a dos licenciamentos ambientais.

Udo – Optamos em entregar as atribuições de licenciamento ambiental de empreendimentos para a Fatma (agora IMA) porque entendemos que eles têm uma equipe densa e preparada para este trabalho. Temos, em Joinville, de cuidar de gestão ambiental, entre outros pontos, nessa área.

Mas não há empreendimentos sem licenças.

Udo – O licenciamento será automático quando tivemos nossos mapas sobrepostos. Licenciamento é um carimbo. Fazer licenciamento é lateral.

Joinville só tem um terço da cidade com tratamento de esgoto. Pode isso, prefeito, em 2019?

Udo – Em 2013 tínhamos apenas 13%, agora são 34%. Temos que elevar o percentual para 60%. Inclusive para termos acesso a recursos federais. Nos próximos três anos vamos aplicar R$ 530 milhões em ampliação das redes de água e esgoto. Em julho, no mais tardar em agosto, vamos entregar as estações de tratamento de esgoto do Jarivatuba (R$ 83 milhões em investimentos), e o aumento da adução da estação de água do rio Cubatão, com outros R$ 27 milhões. No total R$ 110 milhões. 

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Nestes seis anos, algum arrependimento?

Udo – Nenhum. Nenhum arrependimento. O município está 100% digitalizado. Todas as informações estão digitalizadas. Tenho toas as informações no meu Iphone. 

No que isso melhora para a população, para o contribuinte?

Udo – Estamos chegando a 2020 com a população empoderada. É função, e é legal, o poder público disponibilizar as informações para a sociedade. A população precisa enxergar o que a Prefeitura faz. Nossas informações têm de estar visíveis.

Alguma decepção ao longo destes anos?

Udo – Decepção maior eu não tenho. O que incomoda, o que nos traz desconforto, é quando encontramos quem quer prejudicar a cidade por motivos políticos, clientelísticos. O clientelismo grassa de Norte a Sul no pais. Continuarei combatendo.