Aprovado pelo Congresso, o projeto que cria novo marco regulatório de saneamento no Brasil, tende a modificar a situação da cobertura de esgoto nas cidades brasileiras, ao menos a médio prazo. Pelo texto, os municípios terão de fazer licitação, podendo ter concorrentes da iniciativa privada e do setor público.

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Os municípios também poderão se juntar em bloco para criarem condições mais atrativas a potenciais investidores, já que vão somar populações. Quem se opõe ao marco, argumenta que as empresas privadas não teriam interesse em investir em áreas de favelas muito adensadas porque lá seriam necessárias realização de caras obras de reurbanização.

De todo modo, o texto aprovado ainda precisa ser sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro e também passar por regulamentações, mas é um indiscutível avanço na direção certa. Há vários exemplos de cidades onde o saneamento foi deixado de lado ao longo de muitas década. Joinville, só tem um terço da população atendida com esgoto tratado, apesar dos esforços da prefeitura nos últimos anos em minorar o problema.

A universalização dos serviços de esgoto exigem investimentos superiores a R$ 300 bilhões. Muitas empresas se preparam para atuar com mais força na área de infraestrutura a partir desse novo momento. A Tigre é uma delas. Nesta entrevista exclusiva, o CEO Otto von Sothen expõe o pensamento da companhia sobre o tema e analisa a situação do saneamento no país.

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Como a Tigre se posiciona sobre o texto aprovado que cria o marco do saneamento?

Otto von Sothen – Somos amplamente favoráveis. O Brasil atualmente apresenta uma carência enorme nessa área. São mais de 100 milhões de pessoas sem tratamento de esgoto e cerca de 35 milhões de brasileiros não tem acesso à água tratada. A nosso ver não se trata de uma discussão de público vs. privado. Existem hoje excelentes operadores públicos de saneamento, como é o caso do município de Franca, no interior paulista, operado pela Sabesp, que há seis anos lidera o ranking do Instituto Trata Brasil, e que tem 100% de seu esgoto tratado. 

Mas, no geral, há dificuldades financeiras por parte do poder público para investir.

Otto – Sabemos que os governos – municipal, estadual e federal – estão com grandes dificuldades financeiras e direcionar investimentos para o saneamento é muito difícil. Portanto, acreditamos que a participação da iniciativa privada deve acelerar os avanços necessários nessa importante agenda para o país. As experiências de privatização nessa área vêm mostrando que este pode ser um bom caminho. A privatização mais ampla poderá gerar ganhos de eficiência e possíveis impactos positivos na conta do consumidor final no futuro.

Há uma correlação entre saneamento e qualidade das saúde das pessoas.

Otto – O que o cidadão deseja e merece é ter esgoto tratado, independentemente se o operador é público ou privado. Vale ressaltar, nesse momento de pandemia, os benefícios para a saúde pública. A Organização Mundial da Saúde afirma que, para cada dólar investido em saneamento economiza-se quatro dólares em saúde pública. Com saneamento, o país deve reduzir substancialmente seus gastos com saúde pública. Os brasileiros em geral, e as crianças em particular, sofrem muito com o esgoto a céu aberto.

A Tigre tem projetos em andamento, ou que estavam à espera da aprovação do marco?

Otto – Estamos preparados! Sempre atuamos na área de infraestrutura, no Brasil e no exterior. Dispomos de várias tecnologias para produção de tubulações de grandes diâmetros e produtos com diferenciais importantes para tratamento de esgoto. Queremos atuar fortemente nesse processo para ajudar o saneamento no país. O trabalho em saneamento está totalmente alinhado com nosso propósito que é cuidar da água para transformar a qualidade de vida das pessoas. 

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A Tigre está preparada?

Otto -Queremos contribuir para levar água de qualidade e prover coleta e tratamento de esgoto para toda a população. Temos soluções de larga escala e soluções para condomínios, industrias e até para residências como a Unifam, uma unidade familiar de tratamento de esgoto para uma unidade residencial.

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Quais são as expectativas de crescimento nesta área?

Otto – O investimento em saneamento básico no Brasil vem caindo há anos para menos de R$ 10 bilhões/ano. O Brasil é signatário do compromisso global de ODS Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. São 17 objetivos e 169 metas, entre as quais está a universalização do saneamento básico até 2030.

Isso significa?

Otto – Isso irá requerer investimentos superiores a R$ 300 bilhões. Portanto, na velocidade atual, o Brasil só alcançaria essa meta em 30 anos. A expectativa é grande, mas no momento ainda é difícil prever em números. O marco depende ainda de aprovação do presidente da República e de uma série de regulamentações. Mas, diante da carência do país nesta área, acreditamos num crescimento relevante a partir do próximo ano.

Quanto a área do saneamento/infraestrutura representa do total os negócios da Tigre?

Otto – Hoje, representa uma parcela menor do que gostaríamos. Vale lembrar que além do negócio de tubos e conexões, temos atuação em elétrica, irrigação, metais sanitários e ainda em pincéis e outros materiais para pintura. Mas, com o marco do saneamento acreditamos que a área de infraestrutura tem potencial para crescer significativamente sua participação no nosso negócio nos próximos anos.

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Qual deverá ser o Impacto em geração de empregos, investimentos em capacidade instalada e no faturamento?

Otto – Temos capacidade instalada para atender a demanda imediata. Entretanto, vemos que a aceleração no segmento terá efeitos positivos em investimentos e em geração de emprego em toda a indústria e em nossos negócios.

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